Editorial Gazeta do Povo
Invasões ocorreram em Frei Inocêncio, no Vale do Rio Doce (MG), e na Usina Santa Teresa, em Goiana (PE)
No último sábado, dia 5, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) iniciou o seu espetáculo anual de crimes com data marcada, mas quase nunca coibidos ou punidos à altura: o Abril Vermelho. Invasões em Frei Inocêncio (MG) e Goiana (PE) inauguraram a ofensiva de 2025, mas já existem relatos sobre outras invasões nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e São Paulo. Tudo, é claro, sob o olhar condescendente (quando não com o apoio mais ou menos explícito) do governo Lula – afinal, o petista já se referiu aos sem-terra como um “exército” sempre disposto a lhe dar apoio.
Não é mera coincidência que o MST tenha precisado de apenas sete meses, assim que Lula subiu a rampa do Planalto, para quase igualar o número de invasões registradas em todos os quatro anos do governo Jair Bolsonaro. Lula tem colecionado ataques ao agronegócio enquanto afaga os sem-terra, afirmando que está do lado deles, como fez recentemente em Minas Gerais, em março, ao visitar um acampamento do MST: “todo mundo sabe que tenho um lado. Nunca esqueço quem são os amigos de verdade. Sei quem é amigo apenas porque sou presidente”, disse o petista.
E, se o chefe do governo pensa assim, quem são os subordinados para fazer diferente? Ainda no primeiro ano do terceiro governo Lula, a Secretaria-Geral da Presidência e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) produziram um documento de mais de 160 páginas com o objetivo de justificar invasões, até mesmo oferecendo aos sem-terra um “mapa” de propriedades que poderiam ser invadidas, seja por suspeitas de crimes ambientais e trabalho escravo, por dívidas ou por serem áreas da União.
Mais recentemente, já com o mais recente Abril Vermelho em curso, o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, defendeu o MST durante audiência no Senado, fugindo da questão crucial levantada pelo senador Jorge Seif: “Vocês não reconhecem invasão de terra como crime?” Teixeira, recorde-se, foi quem prometeu “resolver pelo diálogo” uma invasão do MST em uma fazenda da Suzano, na Bahia, em março de 2023. Os sem-terra já haviam ignorado uma ordem judicial de reintegração de posse, e a terra invadida era produtiva. Ou seja, era um caso de crime seguido de desobediência a uma ordem da Justiça; mas, ao falar em “diálogo” em vez de defender a aplicação da lei, o ministro igualou moralmente criminosos e vítimas.
Tampouco se espere algo do Ministério da Justiça, cujo titular, Ricardo Lewandowski, exaltou o MST quando ainda ocupava uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal. Com isso, a última trincheira para impedir que o campo se torne terra de ninguém é a firmeza dos governadores, responsáveis pela segurança pública. Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais têm lançado ou mantido iniciativas destinadas a reduzir a insegurança nas áreas rurais, prevenindo invasões ou agindo rapidamente quando elas ocorrem.
Já nos estados em que os governadores são inertes ou aliados do governo, só resta aos produtores rurais – e não só eles, pois o MST não perdoa nem mesmo centros de pesquisa da Embrapa – cruzarem os dedos. A Suzano Papel e Celulose, que já foi vítima da baderna, lembrou à época das invasões que as unidades atacadas pelos sem-terra geravam milhares de empregos. Mas isso não importa nem para o “exército de Stédile” nem para Lula, como também não importa o efeito da insegurança no campo sobre a produção de alimentos, cujos preços estão bem pressionados – afinal, o petista é especialista em terceirizar a culpa pelos erros próprios e de seus aliados.