JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

Estou escrevendo livro que vai ter esse título. Reunindo conversas que tive, pela vida, com todo tipo de gente. Ia dizer desde Presidentes da República até pessoas modestas. Mas logo percebi o erro. E já corrigi. Que muitos dos simples são personagens que valem a pena. E nem todos os Presidentes são grandes homens. Como palavras da abertura, fiz esses versinhos: Tem conversa que é de pai/ Conversa pra um irmão/ Conversa de padre santo/ Conversa de assombração/ Conversa de paz e amor/ Conversa de confusão/ Conversa de prato caro/ Conversa café com pão/ Conversa de vida boa/ Conversa de solidão/ Conversa de amor a Deus/ Conversa na lei do cão/ É um bom, outro ruim/ Esse mundo é mesmo assim/ Viva tu e viva mim/ Viva Dom Sebastião. E decidi reproduzir, aqui no JBG, algumas dessas conversas. Na esperança de que o amigo leitor sinta, quando ler, pelo menos um pouco do prazer que tive ao participar delas. Aqui vão as primeiras:

* * *

Padre EDWALDO GOMES, de Casa Forte. Chegamos ao Hospital Memorial São José. No quarto, o padre Edwaldo parecia bem disposto. E fui logo dizendo:

– Maravilha, pastor. Imagino como deve estar contente.

– E por que?, José. Estou aqui cheio de fios…

– É o seguinte. O amigo passou a vida inteira sonhando em encontrar com o Pai Eterno. E agora, quando esse momento está tão próximo, deve ser o homem mais feliz do mundo.

Vade retro, José. Pare com isso que não tenho pressa.

E se benzeu – Pai, Filho, Espírito Santo.

* * *

ELIAS SULTANUM, santeiro. Ligou para saber do Coronavirus.

– Como estão?

– Muito bem.

– Graças.

– Adeus.

* * *

JOSUÉ DE CASTRO, autor de Geografia da Fome. Em seu apartamento de Paris, à beira do Sena. Alí, cumpria seu destino de exilado. Fim do jantar, começou a tomar comprimidos. Eram 12, escondidos entre os talheres de sobremesa (que ia pondo bem devagar, na boca; um comprimido, e um gole de água). Dava para contar, sem nem perceber. Então perguntei:

– Para que isso, Dr. Josué? O senhor está tão bem.

– Estou não, meu filho. Estou morrendo!

– De que?, Dr. Josué.

– De saudade.

Josué de Castro ia fenecendo, cada dia um pouco, por não poder voltar ao Brasil. Dois meses depois, como previu, acabou morrendo. Saudades.

8 pensou em “CONVERSAS DE MEIO MINUTO (1)

    • Assino e boto fé. Isso é JBF. Aos demais? Apenas um conselho: só no JBF se encontram reunidos esses luminares. À concorrência só resta o choro e o ranger de dentes…

  1. Dezembro de 2005

    Eu e o poeta Joca de Oliveira estivemos pela segunda vez no Escritório de Advocacia do Dr.º José Paulo Cavalcanti Filho na Avenida Agamenon Magalhães.

    Educado como sempre, ele autorizou a secretária que nos deixasse subir.

    Sala ampla, cheia de xilogravuras dos geniais Ariano Suassuna e J. Borges.

    Dr. José Paulo se levantou da cadeira giratória onde estava sentado e, com sorriso largo assim que avistou a gente subindo a escada, se aproximou para nos apertar as mãos.

    Nesse instante, ele acendeu um charuto, deu uma barofada, e perguntou o que nos trazia ali.

    Sentado onde estava para sua frente, fui logo abrindo o jogo porque estávamos ali para falar com ele:

    – Por que o Dr. deixou de publicar seus artigos às sextas-feiras no jornal local? Logo seus artigos, que me mantinham ligado ao jornal! Agora perdeu a graça! Quero mais ler não – disse eu!

    Joca ficou calado.

    – Chiquinho – disse Dr. José Paulo com os olhos bem abertos e nos fixados. Há os assuntos públicos e os privados. Quando qualquer meio de comunicação extrapola esse limite sem nenhum respeito ao profissional, há constrangimentos. É hora de dizer não mais. E comentou sobre o episódio desagradável que o fez se afastar do jornal.

    Em seguida, nos presenteou com o livro “Aos Amigos Tudo”, Editora Bagaço/2003, e arrematou novamente:

    – Eu estava precisando me afastar mesmo para escrever um livro sobre Fernando Pessoa, Chiquinho. Vai ser um projeto que levará no mínimo doze anos de pesquisa. Antes de me encantar quero deixar uma obra digna para os amigos e leitores se lembrarem de mim. Já consultei Maria Lectícia. E ela me disse: “Se é isso o que você quer. Se não está satisfeito…”

    Depois do meu pai, foi a primeira vez que me vi sentado diante de um homem Digno!!

    Valeu, amigo do coração! Se eu já era o que era, passei a ser o que sou graças à sua honestidade.

    • Talvez as mais belas palavras que já recebi na vida, amigo Chiquinho. Devo, não nego, e nunca vou poder pagar. Obrigado, abraços, José Paulo.

  2. Feliz é o JBF e os fubânicos, poderem contar com criatura de cabedal cultural do porte do Dr. José Paulo Cavalcanti.. Cultural e humanitário.

    Não custa lembrar que com o livro “Fernando Pessoa – uma quase autobiografia”, editora Record, onde o ilustre escritor brinda o leitor com “amores, ofícios, a arte de fingir, seus 127 heterônimos, o gênio e a liturgia do fracasso” sobre o grande poeta português, ele arrebatou o Prêmio José Ermírio de Moraes da ABL. É o ocupante da cadeira 27 da APL

    Pra sorte nossa, o Mestre José Paulo é adepto dos que comungam “Inteligência sem obras é tesouro enterrado”.

    Daí, as botijas expostas. Sem mapas.

  3. E se prenuncia mais uma botija.
    Dada estas notícia, requeiramos, de pronto, inscrição na longa lista de pretendentes que se prenuncia para essa nova preciosidade.

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