Leonardo Coutinho
Nadine Heredia, esposa do ex-presidente do Peru Ollanta Humala, chegou ao Brasil após ter sido condenada na Operação Lava Jato local
A Operação Lava Jato parece ter sido a última chance de civilizar as relações dos políticos com o dinheiro público no Brasil. Mas não só. Deu a vários países da América Latina a chance de limpar seus sistemas políticos e práticas contratuais, quase sempre constituídas por meio de uma série de vícios, entre os quais a corrupção.
Isso aconteceu porque, assim como o Brasil exportou o modelo de corrupção, a chance que tivemos de estancar a roubalheira também foi exportada. No Peru, os efeitos foram particularmente devastadores, resultando na prisão de ex-presidentes e na exposição de um sistema político profundamente enraizado em práticas ilícitas.
A Lava Jato revelou um padrão de corrupção sistêmica no Peru, envolvendo subornos e financiamentos ilegais de campanha por meio da construtora brasileira Odebrecht.
Um dos seus executivos admitiu ter distribuído milhões de dólares a políticos peruanos ao longo de décadas. As primeiras descobertas no Brasil serviram de ponto de partida para os investigadores peruanos iniciarem a sua própria “Operação Lava Jato”.
Os resultados da operação Entre os principais implicados estão os ex-presidentes Alejandro Toledo, Pedro Pablo Kuczynski e Alan García. Toledo foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão por receber US$ 35 milhões em subornos relacionados à construção da Rodovia Interoceânica.
Kuczynski enfrentou prisão domiciliar por acusações de lavagem de dinheiro, enquanto García cometeu suicídio em 2019 antes que fosse cumprida contra ele uma ordem de prisão. Agora chegou a vez do ex-presidente Ollanta Humala.
Como assim agora?
Pois é. Embora no Brasil a Operação Lava Jato tenha sido desmantelada como o resultado de um rearranjo do sistema político e judicial em busca de autoproteção, a versão peruana segue firme e forte.
Humala e sua mulher Nadine Heredia foram condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro. O casal foi acusado de receber cerca de 3 milhões de dólares da Odebrecht para financiar as campanhas presidenciais de 2006 e 2011.
Após a sentença, Humala foi imediatamente preso e levado para a prisão, onde passou a fazer companhia para os ex-presidentes Alejandro Toledo e Pedro Castillo (esse preso por tentativa de golpe de Estado).
Nadine, por sua vez, escapou. Entocou-se na Embaixada do Brasil em Lima e pediu asilo. O movimento da ex-primeira-dama não foi trivial. Ao escolher o Brasil, justamente sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ela pediu abrigo a quem, segundo os delatores da Odebrecht, foi quem autorizou a liberação dos recursos ilícitos para a campanha bolivariana de Ollanta Humala.
O pedido de “asilo” de Nadine nada mais é que uma fuga seguida de resgate.
Como se não bastasse tanto absurdo, o humanitarismo lulista chegou ao ponto de o contribuinte brasileiro pagar a conta do envio de um jato da Força Aérea Brasileira para fazer às vezes de táxi aéreo para uma foragida.
O esforço do governo Lula para dar fuga à companheira, visto sob o histórico de que o delator da Odebrecht disse aos investigadores peruanos que a propina foi paga por pedido do Partido dos Trabalhadores, transformou o ato pretensamente humanitário em ato completamente amoral.
Para manchar ainda mais a reputação do Brasil como paraíso de esquerdistas foragidos, basta lembrar que Nadine não é a primeira a ganhar a proteção dos governos petistas.
Por anos, o terrorista das FARC Olivério Medina viveu no Brasil sob as bênçãos de Lula e do PT. Outro terrorista, o italiano Cesare Battisti, também teve anos de paz até o final de 2018, quando fugiu do Brasil com medo do recém-eleito Jair Bolsonaro, que havia avisado que o deportaria.
Nos pontos de convergência entre Lula, PT, Odebrecht e Nadine, são tantos que sua fuga assistida para o Brasil cheira tão mal que deveria ser objeto de investigação do Congresso, revisão e julgamento do Judiciário e recuo do Executivo.
Mas esse tipo de coisa só aconteceria em condições ideais de temperatura e pressão. Não é o caso do Brasil.