PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Chove cinza do céu. Todo o rosal ajoelha,
balbuciando uma suave oração de perfume.
Não há, no firmamento, uma sombra vermelha:
– Tudo é ausente de cor – tudo é viúvo de lume.

A tristeza do instante em teus olhos se espelha,
minha estranha Quimera, ó sacrossanto Nume,
que acendeste em meu sonho a radiosa centelha
na qual todo o esplendor deste amor se resume…

Sob a chuva do espaço o jardim adormece.
E, sobre nós os dois, como um mistério, desce
a carícia da tarde, essa divina viúva.

Andam lábios errando, invisíveis, no ambiente;
e, morrendo de amor, dentro da luz morrente,
os nossos corações são Jardins sob a Chuva…

Alceu de Freitas Wamosy, Uruguaiana-RS (1895-1923)

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