CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

A REVOLTA DO QUEBRA QUILOS NA VILLA DO ACARY EM 1874

A revolta ou sedição do Quebra Quilos foi um movimento de conotação popular que aconteceu nas Províncias do Norte, como era chamada a atual região Nordeste, na segunda metade do século XIX.

Na Província do Rio Grande do Norte, vilas inteiras se revoltaram contra a implantação de um novo sistema métrico, saqueando feiras e destruindo pesos e medidas do comércio.

Os instrumentos de pesos e medidas eram alugados ou comprados à Câmara Municipal, que cobrava ainda por sua aferição. Um dos impostos criados coma adoção dos novos parâmetros que mais provocaram a ira dos revoltosos foi o chamado “imposto do chão”, cobrado àqueles que expunham suas mercadorias no chão da feira.

Das treze vilas que estiveram envolvidas no levante do quebra quilos, cinco eram do Seridó: Acary, Príncipe (Caicó), Flores (Florania) Jardim (Jardim do Seridó) e Currais Novos. Para agravar a insatisfação com os novos impostos sobre as mercadorias, sobreveio à população o recrutamento obrigatório para a Guerra do Paraguay (1864-1870).

No Acary, os principais líderes do movimento foram Manoel Bezerra de Araújo Galvão, Joaquim José de Carvalho Pinto e Benjamin Manuel de Figueiredo Cavalcanti. Juntaram-se, também, à revolta, comerciantes, elementos da camada proprietária, pequenos agricultores que vendiam sua produção semanalmente na feira e consumidores atingidos com a elevação de preços dos produtos.

No domingo, dia da tradicional feira do Acary, os sediciosos caminharam em numero considerável até o Mercado Publico. Chegando lá se iniciou discussão acalorada, terminando em uma luta corporal entre os participantes da revolta e a pequena força policial que tentava sem sucesso por um fim a confusão. Sem ter como fazer frente à situação, os agentes da força publica bateram em retirada, após o delegado levar um “tijolo” de rapadura na cabeça e um dos soldados sofrer uma tremenda cacetada. Os revoltosos invadiram o Mercado de onde levaram vários pesos e medidas e lançaram no Rio Acauã.

Sob a tutela de Manoel Bezerra de Araujo Galvão, os revoltosos do Quebra-Quilos organizaram o próximo passo, invadir a Câmara Municipal e colocar fogo no arquivo, a fim de dar cabo das leis que estabeleciam os novos pesos e medidas. Porém, de alguma forma, o Coletor geral de imposto do Acary, Joaquim Teotônio Pereira de Araújo, soube de tais planos e, no silêncio da madrugada, com a ajuda de seu escrivão, Manoel Dantas, transferiu vários documentos da Câmara Municipal para sua própria residência. Sem saber de tal ocorrido, no raiar do dia, os sediciosos foram até as dependências da Câmara Municipal da Villa do Acary e adentraram no recinto. Insatisfeitos por não encontrarem as leis “maléficas” que desejavam dar fim, rasgaram documentos e livros, e depois tomaram o rumo da feira. O objetivo lá era impedir que o cobrador de impostos recolhesse o injusto e caro “imposto de chão”.

Sabendo disso o comandante policial do Acary, o tenente Joaquim do Rêgo Barros, mandou para a feira um destacamento. O encontro entre a polícia e o séquito liderado por Manoel Bezerra de Araujo Galvão foi inevitável. Os ânimos se exaltaram tudo caminhava para um combate corpo a corpo entre a força policial e os partidários do Quebra Quilos. Foi, então, que Manoel Maria Dantas e Joaquim Paulino de Medeiros (Quincó da Ramada) intervieram e apaziguaram, evitando que o conflito chegasse às vias de fato.

O documento que nos possibilitou essa viagem de quase cento e cinquenta anos se encerra aqui nesse ponto. As páginas ilegíveis, corroídas pelas traças e pelo impiedoso tempo não me permitem continuar essa crônica histórica sobre esse fato no Acary antigo. Entretanto, foi possível ficar durante quase uma semana, no ano de 1873, passeando pelas asseadas ruas e visualizando mentalmente como se deu a Revolta do Quebra Quilos na Villa do Acary.

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