JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Eu hoje aos 80

Minha Santa Avó me disse: “30 de abril de 1943 foi uma sexta-feira. Não havia parteira, muito menos carro ou cavalo para levar a parturiente até ao hospital mais próximo – esse, também não existia. Só na capital. A solução encontrada, foi ela mesma (a Avó) criar coragem e fazer o parto, pois o maior trabalho seria mesmo da Mãe”.

O pai trabalhando. Não havia charutos. Também não havia preparos, nem água para o primeiro e necessário banho. Tia Maria assumiu como “Auxiliar de Parteira” e teve que botar a sela no jumento, e ir ao açude buscar um caminho d´água. Tudo fora do contexto.

A tesoura usada para o corte do cordão umbilical, por falta de uso, estava enferrujada e sem corte. Nunca alguém pensara em fraldas ou berço – e isso talvez explique a minha paixão por redes.

– Força muié, mais força, a cabeça está aparecendo!

Era o comecinho da tarde do dia 30. Afastados dali por alguns metros, o barulho dos chocalhos pendurados nos bodes e o gluglu fora de motivo e propósito do peru, denunciavam que, no chiqueiro algo estranho estava acontecendo – e não era nenhuma “Revolução dos Bichos”.

– Nasceu, é um menino!

Tia Maria chegara com o caminho d´água. Nem precisou esquentar no fogo, pois o sol abrasador entre a casa e o açude se encarregara disso. Enquanto a Avó “amolava” o lume da tesoura na pedra de amolar para cortar o cordão, Tia Maria despejava gotas de Anasseptol na bacia, em seguida, a água.

Vovó cortou o cordão umbilical. Isso, imagino, explica minha paixão edipiana por ela.

A tarde caminhava para sua metade e, ainda que sem motivos, os chocalhos voltaram a fazer barulho, o galo cantou, ainda que não fosse madrugada e, um pouco distante dali, o Vem-vem cantou, provavelmente dando graças à Deus.

Anos depois, vim saber que, 30 de abril é o “Dia Internacional do Jazz”.

Dez anos depois disso, mais precisamente em 1953, a mudança para a capital. Sem eira nem beira ou algum parente que pudesse nos receber por alguns dias (provavelmente muitos), erguemos uma palhoça na praia do Pirambu, num local onde ninguém frequentava. Ficamos nos alimentando de siri.

A vida continuou e o sofrimento amainou. Papai começou a trabalhar. Um amigo nos cedeu uma casa em construção e ali moramos por uns cinco anos. No bairro Bela Vista.

Matriculado no Grupo Municipal São Geraldo. Quatro anos no primário, mais um ano para o Exame de Admissão ao Ginasial no Liceu do Ceará. Quatro anos no ginasial e mais três no científico. O Exército e um convite inusitado do Comandante (Coronel Celestino Nunes de Oliveira) para fazer o CPOR. Não aceitei, pois já tinha destino definido como objetivo.

Primeiro trabalho na Organização Silveira Alencar e em seguida na The Western Telegraph Co. Ltd. O dia 31 de março de 1964 mudou tudo. Desmanchado um namoro de mais de cinco anos e a mudança em 1969 para o Rio de Janeiro.

Árbitro de Futebol, em 70, experimentei pela primeira vez pisar no gramado do Maracanã, para apitar o jogo Fluminense 2 x 2 Olaria pelo campeonato juvenil.

Em 1973, o casamento. Em 1978, nascia Ana Karina, a primeira filha, hoje com 45 anos. Em 1983 a separação no casamento. Trabalhos na Marcovan, na Federal de Seguros, na Cosigua e, finalmente na Reser, quando encerrei meu ciclo carioca e, em 1987 mudei para São Luís. Antes, em 1981, a graduação em Jornalismo.

No mesmo ano de 1987, a mudança para São Luís e um novo relacionamento familiar com Edna Maria. Três filhos: Anna Paula (Jornalista), Érica Luíza (Enfermeira) e João Felipe (Nutricionista e Fisicultor).

Hoje, aposentado, segurando forte na mão de Deus, vivendo com os mesmos valores encaminhados pelos avós e pais, estou aqui com vocês. Parece que a missão ainda não foi concluída. Deus é quem vai decidir, como sempre decidiu tudo que a mim diz respeito.

13 pensou em “CHEGUEI – ANDANDO NO CAMINHO ILUMINADO POR DEUS

  1. Eita, José Ramos. Sua vida é um romance de lutas e vitórias. Desejo de coração muita saúde, alegria e prosperidade pelo seu aniversário.
    Obs.: você é exatamente três dias mais novo que meu irmão.
    Parabéns, mais uma vez, e muita paz em sua existência abençoada pela sua luta e determinação.
    Grande abraço,
    Magnovaldo

  2. Parabéns, José Ramos.
    Que você tenha sempre muita saúde, paz e felicidades.
    E que você continue ainda por muito tempo nos brindando com suas histórias emocionantes.
    Mais feliz também por ser o dia do aniversário da minha mãe, Neiva, completando 85 anos.
    Abraços amazônicos.

  3. Parabéns amigo ZéRamos, bela história de vida, que Deus o mantenha sempre assim, hoje também seria o aniversário de 77 anos do meu irmão mais velho, mas Deus o convocou mais cedo (2019), não importa se não esta comigo, sempre lembro com carinho. Felicidades amigo e vida longa!!!!

  4. Poucos alcançam 8 décadas e menos ainda lá chegam tão inspirados. Oitentão com prosa de trintão

    Algo estranho estava acontecendo – e não era nenhuma “Revolução dos Bichos”.

    – Nasceu, é um menino! “CABRA MACHO SIM, SENHOR”

    Cabra macho sinssinhô e gente como a gente…

    Obrigado, “pariceiro”, ZéRamos pelo simples fato de VOCÊ existir.

    Meu amigo Zé Laricca, homem que viaja no tempo, retornou agorinha do futuro e garante que leu crônica sua, onde o amigo enxugava gelo comemorando seu centenário neste mesmo JBF.

    Imorríveis???? Perguntei ao viajante se na lista dos cronistas havia alguma alteração e ele me garantiu que dos 50 atuais cronistas, só três não mais estavam,não tendo como decifrar se haviam “partido desta para melhor” ou se Berto havia dado um pé nos fundilhos dos cabras. kkkk

    Phé em Deus que o resto se arranja. Beijão, 80Zé!!!!!!!!!!

  5. Bom mesmo era a galinha do resguardo que a gestante tinha direito depois do parto e a gente dava umas beliscadas, rsrsrs. Parabens, meu jovem. Oitenta com carinha de trinta, rsrsrs.

    • Beni, dessa galinha eu sempre gostei do fígado, do “sobrecu” e, do “mucuim” – um espécie de filtro que está ligada à moela.

  6. Parabéns, meu amigo e conterrâneo Zé Ramos. Depois de nossas conversas reservadas nunca mais andei pela parquelândia e bela vista sem me lembrar de suas agruras e lutas. Abraço forte do amigo, com desejo de muita saúde e de muitos anos de vida.

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