MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

Recebi essa foto e fiquei estupefato com o alcance que isso tem. Lamentei bastante, primeiro porque sou formado, também, em Matemática e ensino cálculo diferencial e integral além de outras disciplinas da área. Surpreendente se criar um curso dessa natureza.

O artigo 207 da Constituição Federal garante autonomia à universidade tanto do ponto de vista administrativo quanto do ponto de vista financeiro. Em outras palavras, é uma decisão da instituição criar ou extinguir o curso que quiser desde que isso seja aprovado no colegiado do curso e nos conselhos internos (administrativo e universitário).

Eu confesso que nunca vi uma babaquice tão grande quanto essa. Por diversas razões: a primeira delas é que essa disciplina não capacita ninguém a melhorar o desempenho dos alunos brasileiros na prova do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, que a cada três anos submente alunos, com 15 anos de idade, do mundo inteiro a um exame no qual se verifica como anda o sistema educacional do seu país. O exame exige conhecimento em leitura, ciências, matemática, por aí. Em 2015 o Brasil ficou em 69º lugar, ou seja, ficamos a três lugares do último colocado. Motivo: não ensinam aos estudantes responder problemas de matemática e de raciocínio lógico. Ensinam babaquices que não são exigidas nas provas. Eu tive a curiosidade de olhar uma das provas e os assuntos versavam sobre o Teorema de Pitágoras, percentagem, lógica, razão (escala), enfim… nada que a Afro-etnomatematica tenha a contribuir.

Recordo de uma expressão que há, u havia, pois não sei se o politicamente correto já mandou proibir, nos livros infantis: “Vovô viu a uva”. Daí, um grande educador brasileiro escreveu que não bastava saber que “Vovô viu a uva”, mas que era necessário saber quem plantou, quem colheu, quem lavou, de quem a terra na qual ela foi plantada e …. puta que o pariu…. se vovô fosse cego e com um transplante de córneas, por exemplo, voltasse a enxergar e tivesse visto a uva? Precisava saber o resto?

Um segundo ponto que me incomoda é que a universidade deve ser responsável pela transmissão do conhecimento à sociedade, sendo a preparação do aluno para o mercado, ou para a academia, um mero corolário disso. Qual a empresa que vai contratar um cara que estudou Afro-etnomatemática? Vamos precisar criar a LGTB-matemática? A indígena-etnomatemática? Afetaram minha paixão!!!!!!

Uma ciência exata, que não depende da cor e nem do gênero para aflorar. Srinivasa Ramanujan era negro, indiano, não teve formação básica de matemática e deixou um legado extraordinário. Sua vida foi retratada no filme O Homem que Viu o Infinito. Abu Abdalá Maomé ibne Muça ibne Alcuarismi, que nós conhecemos como Al-Khwarizmi, foi um grande matemático árabe, sendo o “algarismo” um reconhecimento ao seu trabalho. O filme Estrelas Além do Tempo mostra a importância de três mulheres matemáticas, negras, que mudaram a história da corrida espacial. Nenhuma delas estudou uma babaquice dessas. Por isso tiveram sucesso.

Assim, o ciclo da ignorância é supremo: a universidade, gozando de sua autonomia, oferta um curso que não tem a menor aplicabilidade e os caras que estudam isso não serão melhores profissionais. Serão apenas analfabetos funcionais e candidatos a um cargo de professor em alguma instituição de ensino, público, porque no setor privado o que se quer saber é se o professor tem didática e conhecimento. Como a imbecilidade se propaga à velocidade da luz, não duvido que essa tolice se estenda para o resto do país. Uma coisa importante: a cada ano o número de alunos que se formam nas licenciaturas diminui bastante.

Finalmente, pegue um aluno desses e bote para concorrer a uma vaga de emprego com outro lado que sabe usar Excel, python, etc. O segundo cara é escolhido e os babacas que formaram o primeiro vão publicar artigos falando que foi discriminação. Muda Brasil. Assim não é possível sobreviver.

18 pensou em “BABAQUICE EXPONENCIAL

  1. Maurício, li o seguinte no facebook:

    “Conteúdo sem tradução para o português deveria ser proibido dentro das universidades. Tão achando que todo mundo teve o privilégio de um ensino médio bilingue? Isso é uma universidade, a acessibilidade tem que ser para todos, não eliminatório como mercado de trabalho. Pra mim isso é falta de empatia”

    Seguiam-se uns duzentos comentários apoiando, dizendo que o aluno da universidade pública mora no meio do mato sem internet e mal tem o que comer e não tem computador e não pode pagar um smartphone porque tem que sustentar a família e é gente humilde que vontade de chorar, como disse Chico Buarque.

    Nenhum lembrou que curso superior existe para ensinar. Todos acreditam que cursar universidade é um direito de todos, sem nenhuma exigência (tipo esforço ou conhecimento anterior) e receber diploma é uma extensão desse direito. Alguns chegaram a insinuar que provas também não deveriam existir porque são “excludentes”.

    Deve ser uma beleza ter um médico ou engenheiro formado que não tem a menor idéia dos avanços da ciência mundo afora porque “não tem obrigação de falar inglês”.

    • Marcelo, eu até entendo que a História de algumas coisas devem ser repassadas, mas não necessariamente como uma disciplina. Põe num livro, num vídeo e dá pra o aluno. Saí mais barato. Um médico deve conhecer a História da Medicina? Nçai tenho nada contra, agora acho que ele deve saber como suturar, como operar, como ministrar um remédio… Não sei se você lembra, mas o governo de Lula acabou com a obrigatoriedade de inglês para diplomatas. Esse é Brasil.

  2. A UFABC aceitou o lobby do Coletivo Negro Vozes e de “professores sensíveis ao tema” (whateveer does it mean) e criará duas disciplinas, de “Estudos Étnico-Raciais” e “Afro-Matemática como Transformadora Social”.

    Bem, e sobre o que é o curso? É sobre métodos de ensino de matemática, que passa pelo uso de instrumentos físicos baratos e de modelos mentais que se desenvolveram em diferentes países africanos e que ajudaram na formação matemática de crianças que cresceram em zonas de conflito ou em ambiente de profunda desigualdade.

    Como é pertinho (Santo André) vou me matricular assim que estiver disponível.

    • Sancho, quando se fala em coletivo sem ser de animais, me arrepio todo.

      Se uma disciplina dessas fosse dada no currso de Pedagogia, poderia ser chamada de “Métodos de Aprendizado não tradicionais”. Mas, porque só a matemática?

  3. Caro Maurício, colocaste no último parágrafo:

    “Finalmente, pegue um aluno desses e bote para concorrer a uma vaga de emprego com outro lado que sabe usar Excel, python, etc. O segundo cara é escolhido e os babacas que formaram o primeiro vão publicar artigos falando que foi discriminação. Muda Brasil. Assim não é possível sobreviver.”

    Para resolver o problema colocado neste parágrafo existe o concurso da Magalu e outras “ações afirmativas reparatórias” amparadas pelo MPT.

    • Pois é João, o mérito é a cor e não o desempenho. A empresa é privada ela dá emprego a quem quiser, agora poderia ser diferente a seleção.

  4. Calma aí, caro Maurício.
    Você está esquecendo aqui, da instituição de cotas, no caso, raciais, que assegurarão ou complementarão a sapiência dos ilustres graduados e pós-graduados nessa disciplina, trazendo as mentes mais privilegiadas para esse universo que vai colocar o nosso ensino superior em posição de destaque no cenário científico mundial.
    Felizmente a aposentadoria já me fez deixar o magistério universitário há bastante tempo, embora não tenha cortado os meus laços com a atividade, o que me coloca no rol das carpideiras que choram a falência de nosso sistema de ensino superior oficial, notadamente as universidades federais, que enveredaram por uma senda obscurantista inimaginável.

    • Arael, no fundo é isso mesmo: os ilustres graduados aprendizes dessa disciplina em breve concluirão seu mestrado e doutorado e ocuparão as vagas abertas nas universidades

  5. Assuero, quando cursei ADM na UFRN paguei Cálculo III como complementar.
    O que vi nos quatro meses de disciplina nunca me foi útil – enquanto administrador – para gota serena nenhuma.
    Certa vez o professor nos passou um problema. Quatro aulas inteiras para resolvê-lo e a resposta encontrada era uma negação do problema. Ou seja, era outro problema que precisava ser resolvido. Na solução deste novo foram mais quatro aulas e meia, até chegarmos exatamente na equação do primeiro problema com seno cosseno, etc.
    Eu perguntei ao mestre no que se aplicaria tantos cálculos.
    Ele me respondeu com os olhos esbugalhados “Coroné (ele chamava todo mundo assim), vocês acabaram de aprender o botar um foguete para voar.”
    Então, eu perguntei no que aquilo me ajudaria eu sendo administrador.
    A resposta dele:
    “Vai que você vai administrar a NASA?”

    Por que me lembrei disso?
    Porque você disse “assim, o ciclo da ignorância é supremo: a universidade, gozando de sua autonomia, oferta um curso que não tem a menor aplicabilidade e os caras que estudam isso não serão melhores profissionais.”

    Meu abraço, coroné Assuero!

    • Jesus, coroné é com ph, mas vamos lá: eu ensino ciências atuariais e a gente trabalha com análise de risco. Os alunos pagavam cálculo I, II, III e IV, algebra linear e geometria analítica junto com o pessoal de engenharia. Aqui calculo III é cálculo vetorial Só servem para quem é engenheiro ou físico e pra o matemático só serve porque ele ensina. Propus reformular a grade curricular mostra que era uma bobagem isso. Hoje a tem calculo 1 e 2 e uma outra chamada equações diferencias que é uma parte de cálculo 4. O curso está mais leve e os alunos aprendendo o que é necessário para formação deles. Essa da NASA é digna de uma quinta feira. Acho que eu vou entrar na fila e falar de professores kkkkkk

  6. Assunero meu caro. Tb fiz calculo 1 e 2 por obrigação e tambem nunca usei pra nada. Mas aprendi a uma coisa que a matemática ensina que é a logica da consequência pra perseguir o resultado correto. Cousa que estes esquerdistas ignorante não tem a mínima noção nem de lógica e nem de resultados corretos

    • Gonzaga, o usar o não depende muito da área. Eu faço modelagem e uso bastante. Tive um professor que ganhou tubos de dinheiro fazendo um programinha para maximizar o volume de uma caixa de papelão. Eu só economista, também, e os modelos macroeconômicos e de crescimento ficam bem explicados com cálculo. A teoria do controle ótimo usa variáveis de controle e de estado para encontrar uma trajetória ótima. Enfim, depende da área.

  7. Isso tudo deve ser qualquer coisa como:

    “Cálculo da influência matemática da topologia resistiva do galho seco nas estatísticas previsíveis das fraturas expostas da gurizada proletária que socializa frutas nos arvoredos da vizinhança burguesa mediocapitalista.”

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