Em 1973 começou a construção da fábrica da Detroit Diesel Allison do Brasil, no mesmo terreno e ao lado da fábrica existente da General Motors em São José dos Campos, e que posteriormente foi transformada para a fábrica dos motores a gasolina de automóveis.
Tive sob minha responsabilidade o grupo que conduzia a instalação de máquinas de usinagem: tornos, retíficas, fresadoras, furadeiras, etc. Para se fazer a nivelação precisa dessas máquinas pesadas utilizam-se chapinhas de aço quadradas de 1 x 1 polegada (2,5 x 2,5 cm) de várias espessuras, colocadas convenientemente sob as máquinas. Um dos mecânicos me pediu para providenciar uns 4 quilos de chapinhas de 0,5 mm de espessura, que já estavam se esgotando no estoque da Manutenção. E a requisição das chapinhas foi então feita para o Departamento de Compras da empresa.
Exatamente por aqueles dias a G.M. estava migrando todo o sistema de compras para um novo programa de computador que visava agilizar todo o processo, além de evitar erros de interpretação, leitura errada de palavras e números escritos manualmente.
Acontece que o novo sistema foi simplesmente transplantado da matriz americana para a filial brasileira. Entre outras coisas, o sistema teria que sempre utilizar 3 casas decimais, utilizava ponto no lugar da vírgula e vice-versa, como é na notação aritmética americana. Assim, 2 unidades do produto ABC, por exemplo, eram impressas no pedido de compra como “2.000 ABC”.
A requisição original do mecânico foi feita ainda manualmente em um formulário próprio, e os dados foram passados para o novo sistema por um funcionário do Departamento de Compras. E o Pedido de Compra foi emitido pelo bendito computador.
Uma semana depois veio até mim o rapaz do almoxarifado:
– Sr. Magnovaldo, onde quer que eu ponha as chapinhas de aço de seu pedido?
– Ora, pode me dar o pacote aqui mesmo que eu entrego ao mecânico.
– Senhor, não posso descarregar um caminhão inteiro aqui na sua sala!
– Hein? Como assim? São só 4 quilos!
E aí então veio a explicação: o computador emitiu a ordem para comprar 4.000 Kg de chapinhas. O caminhão estava lotado delas. O Fornecedor não aceitou receber o material de volta, claro.
Deixei a empresa 6 anos depois e ainda existia um monte de chapinhas no almoxarifado.
Muita chapa para caber em sua sala. Quiçá no almoxarifado.
Grande Gurú Xico: haja chapinhas. O que eu já vi nos meus quase 9 anos de G.M. dava para encher um livro.
Um grande abraço e um bom final de semana.