JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Julia Malvina Hailliot Tavares nasceu em 24/11/1866, em Encruzilhada do Sul, RS. Professora, escritora, poeta e ativista política. Foi pioneira na implantação de uma metodologia de ensino libertário nos moldes da Escola Moderna, do pedagogo espanhol Francisc Ferrer y Guardia.

Filha de Henriette Souleaux Hailliot e François de Lalemode Hailliot, imigrantes franceses que aportaram aqui em meados do século XIX. Dados em seu diário fazem referência ao fato de sua mãe ter nascido num castelo em Bordeaux, dando a entender uma possível origem aristocrática. Em fins da década de 1880 foi estudar na Escola Normal de Porto Alegre, onde passou a lecionar como professora da rede escolar do Estado.

Casou-se em 1890 com o comerciante português José Joaquim Tavares e manteve-se ativa no movimento político como defensora do federalismo, que não admitia a inteferência dos republicanos em algumas áreas da província. O embate resultou numa guerra civil, a Revolução Federalista ocorrida no período 1983-1895, tendo Julio de Castilhos (republicano) um de seus lideres, à quem Malvina combatia. Conta a história que ele próprio providenciou sua transferência para a vila de Encruzilhada do Sul, como represália ao seu posicionamento político, em 1898.

Pouco depois mudou-se para Cruzeiro do Sul, onde lecionou até o fim de sua vida. Em seu método de ensino foram abolidos os castigos corporais aos alunos e o ensino religioso, adotando uma didática revolucionária para a época. Pesquisadores de sua história acreditam que, devido às críticas que mantinha ao governo e ao seu pensamento libertário, tudo leva a crer que ocorreu um silenciamento intencional de sua memória. Desse modo, invisibilizada pela história local, acabou sendo esquecida.

O que restou de sua memória são estudos acadêmicos e pesquisas sobre sua trajetória. Alguns a definem como anarquista; outros negam. Faleceu em 16/10/1939 e deixou um considerável legado no movimento operário e vários de seus alunos se tornaram destacados líderes anarquistas e sindicalistas, tais como Armando Martins, Artur Fabião Carneiro, Cecílio Villar, Dulcina Martins, Nino Martins e Virgínia Martins.

Em sua família persistiram os ideais revolucionários por gerações. Um de seus netos, o jornalista Flávio Tavares participou da luta armada contra a ditadura em fins da década de 1960. Foi um dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado pelos grupos de resistência em setembro de 1969. Temos notícia que sua conterrânea, a escritora Laura Peixoto, está escrevendo um romance biográfico sobre Malvina.

Biografia ainda não temos, mas dispomos de esboços biográficos: Mulheres em cena: as trajetórias de Ana Aurora e Malvina Tavares no limiar do século XX, de Carlos Gilberto Pereira Dias, publicado pela Editora Primas, 2016 e Escrituras marginais: fragmentos de memórias da professora Malvina Tavares (1891–1930), um artigo publicado pelas pesquisadoras Doris Bittencourt Almeida e Luciane Sagrbi Santos Graziottin, publicado na Revista Brasileira de História da Educação, vol 15, nº 1: 109-142, jan./abr. 2015. Para acessar, basta clicar aqui.

6 pensou em “AS BRASILEIRAS: Malvina Tavares

  1. Pois é Dom José Paulo.
    Temos grandes mulheres esquecidas na Memória do Povo Brasileiro.
    Vamos nos mantendo firme e sem distinção de credo, classe social ou ideologia em seu encalço.
    Grato pelo apoio ao Memorial.

  2. Obrigado meu estimado colunista e memorialista do JBF pela publicação de mais essa pérola que tanto enaltece a nossa cultura, esquecida nos porões dos livros velhos empoeirados das Bibliotecas Públicas, que o estimado amigo os resgata com magnanimidade.

    Forte abraço com ótima semana.

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