JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Anita Catarina Malfatti nasceu em São Paulo, SP, em 2/12/1889. Pintora, desenhista, ilustradora, gravadora, professora e pioneira da Arte Moderna Brasileira. Um surpreendente caso superação, tendo em vista o fato de nascer com uma deficiência física menor, atrofia no braço e mão direita, a mão que pinta! E, mesmo assim, ter se tornado uma grande pintora. Como pintora foi adiante e introduziu o “Modernismo” no Brasil, que agora comemora seu centenário.

Filha da pintora norte-americana Eleonora Elizabeth Krug e do engenheiro italiano Samuel Malfatti, viajou para a Itália aos 3 anos para uma cirurgia corretiva, mas o resultado não foi animador. De volta ao Brasil, foi auxiliada por Miss Browne, uma governanta inglesa, a usar a mão esquerda no aprendizado da escrita e da pintura. Os primeiros estudos se deram na Escola Americana e no Colégio Mackenzie, onde foi diplomada professora, aos 17 anos, em 1906. Ainda na infância, seu pai que chegou a ser deputado estadual em 1892-1894, faleceu e a família perdeu o esteio financeiro. Não sofreu graves perrengues, mas passou a levar uma vida modesta.

Para se manter, a mãe foi dar aulas particulares de idiomas, desenho e pintura, tendo a filha como assistente. Aí a menina aprendeu e desenvolveu o talento no desenho e na pintura. No entanto, sua vida não ia bem, pois aos 13 anos tentou suicídio, deitando-se nos trilhos do trem, próximo da Estação Barra Funda, onde morava. Aos 21 anos, em 1910, seu tio e padrinho Jorge Krug bancou sua viagem à Alemanha, onde estudou pintura e entrou em contatos com movimentos de vanguarda: expressionismo, cubismo e com o grupo “Die Brucke”. Teve aulas com destacados professores: Fritz Burger e Lovis Corinth e Ernst Bischoff-Klum. Depois ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim, mas deixou-a no ano seguinte convencida que a arte acadêmica não era sua praia. Pouco antes de estourar a I Guerra Mundial, retornou à São Paulo após breve estadia em Paris.

Aos 24 anos realizou sua primeira exposição individual e tinha como objetivo obter uma bolsa de estudos e voltar a viajar, mas não conseguiu. Seu tio/padrinho bancou de novo sua viagem para Nova Iorque, em 1914, onde estudou na Art Student’s League e Independent School of Arts, para estudar gravura e pintura, e teve aulas com George Brant Bridgman e o pintor e filósofo Homer Boss, que a aconselhou a se aprofundar mais na arte expressionista. Ficou por lá 2 anos e, na volta com a mala cheia de telas, causou certa decepção no âmbito familiar. Não compreenderam aquele tipo de pintura; gostariam de ver uma pintura mais formal. Outra exposição foi montada em 1917. Vendeu 8 quadros, mas uma crítica ferrenha, publicada por Monteiro Lobato n’O Estado de São Paulo, em 20/12/1917, causou a devolução dos quadros e ela passou a ser atacada pela imprensa.

Os futuros modernistas – Oswald e Mario de Andrade, Di Cavalcanti, Guilherme de Almeida e Menotti Del Picchia – entraram em campo para defendê-la. Não deixa de ser interessante o fato que a tornou conhecida do público paulistano: as críticas acirradas de Monteiro Lobato. Ao verem sua verve – vale dizer: um “medalhão” literário- contra aquele tipo de pintura, todos se motivaram em ver as obras e correram para a exposição. Em seguida, talvez movida pela crítica, tentou uma aproximação com a linguagem tradicional e foi tomar aulas com Pedro Alexandrino Borges, um pintor acadêmico, e frequentar o ateliê do pintor alemão George Fischer Elpons, onde travou contato mais próximo com colegas do curso: Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Tal amizade resultou na criação do “Grupo dos Cinco” (Mário, Oswald, Menotti, Anita e Tarsila) que irá organizar a Semana de Arte Moderna, em 1922.

Expôs 20 telas durante a Semana e no ano seguinte ganhou uma bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Viajou de novo para Paris, onde morou por 5 anos. Na volta, em 1928, e já consagrada como pintora, montou sua quarta exposição individual. A partir de 1930, participou de diversos eventos: fundou a SPAM-Sociedade Pró-Arte Moderna; participou do Salão Revolucionário (1931); montou um curso de História da Arte; aproximou-se da Família Artística Paulista (FAP) e instalou seu ateliê no bairro de Higienópolis, onde permaneceu até 1952. No ano anterior participou da I Bienal de São Paulo e seguintes e ganhou uma sala especial na 6ª Bienal, em 1961. No 40º ano da Semana de Arte Moderna, em 1962, foi homenageada e participou de diversos eventos.

Não obstante ser uma pessoa famosa, era uma pessoa tímida e vivia mais ou menos reclusa em sua chácara em Diadema desde a década de 1940, após a morte de sua mãe e de seu grande amigo Mario de Andrade. Aí veio a falecer em 6/11/1964. Entre seus trabalhos mais conhecidos, encontram-se: O Farol (1915), Torso/Ritmo (1915/16), O Homem Amarelo (1915), Tropical (1917), A Japonesa (1924), A Estudante (1916), Samba (1945), Paisagem de Ouro Preto (1948), A Boba (1915) etc. A bibliografia sobre a pintora é extensa, tal como as biografias dentre as quais vale citar: Minha Tia Anita Malfatti (2009), de Doris Maria Malfatti; Anita Malfatti no tempo e no espaço: biografia e estudo da obra (2019), de Maria Rossetti Batista e Anita Malfatti (2011), seu caderno de desenhos, publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

4 pensou em “AS BRASILEIRAS: Anita Malfatti

  1. Mais um Goal de letra espetacular do nosso biógrafo mor.

    Fico esperando pelo domingo, durante toda semana , na expectativa de
    encontrar mais uma gigantesca figura biografada pelo nosso grande Brito.

    Nunca perco por esperar, pois sempre sou gratificado com personagens
    importantes da nossa história que são homenageados pela pena gigantesca
    do nosso grande biógrafo.

    Como sempre meu Caro Brito, você acaba de fazer mais um belíssimo goal, iguais aqueles executados com mestria e muita malandragem, pelo nosso genial Garrincha.
    Abraços, mui presado Mestre.

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