CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Quando João Cabral acertou o pagamento da pousada no Recife, Seu Manoel, o proprietário, pediu-lhe um favor: dar uma carona à Daniela, sua filha, até Maceió. Gentil, João disse ser um prazer. Partiram após o almoço. A jovem acomodou-se no banco da frente do Honda, não cumprimentou João, sequer um boa tarde, tinha “walk-man” grudado ao ouvido, parecia estar em outro mundo. Partiram rumo as Alagoas. A jovem calada, como se estivesse fazendo um favor ter sua companhia durante a viagem.

Cabral sentiu desconforto com o comportamento mal-agradecido da adolescente. Daniela, bem crescida, dizia ter 20 anos, entretanto, não completara 17. Corpo de mulher, cintura fina, quadris largos, a pele rosada destacava sob a blusa transparente de malha branca. Bermuda jeans apertada, esfarrapada, pernas bem torneadas. “Uma bela potranca” pensou Cabral enquanto analisava discretamente a companheira acidental.

A viagem transcorreu monótona, sem conversa, Daniela ouvindo rock. Em certo momento ela retirou o fone do ouvido, sem pedir licença, ligou o rádio do carro, procurou um rock pauleira, ficou a ouvir enquanto o carro rodava na estrada. Cabral tentou conversar, mas desistiu diante do mutismo irritante de Daniela.

Após quase duas horas de viagem caiu uma chuva persistente, há uma semana chovia na região. Ele parou num posto de combustível e abasteceu o carro. Foram à lanchonete, pela primeira vez, Daniela falou.

– Minha conta eu pago. Faço questão de não lhe dar despesas.

João Cabral já havia pagado, respondeu brincando:

– Na próxima você paga.

Retornaram à estrada sob intensa chuva, o limpador de para-brisa oscilava veloz limpando o aguaceiro que caia. De repente deparou-se com um engarrafamento, trânsito lento, carros parados. Acontecera um problema na estrada, o aterro da cabeça de uma ponte desmoronou devido à enxurrada da chuva. O D.E.R. tentava liberar a estrada a qualquer momento, entretanto ninguém podia passar, era perigoso enfrentar a estrada àquela hora, escurecia. O policial aconselhou a dormir em Palmares e continuar viagem no dia seguinte.

Cabral perguntou a opinião de Daniela. Simplesmente ela fez um gesto com os ombros e os lábios, como se dissesse tanto faz, ele precavido retornou ao posto. Recomendaram um hotel na cidade.

Na portaria Cabral pediu dois quartos. A chuva continuava mais forte ainda, marcou com Daniela para jantar no próprio hotel às 19: 00h.

Ele desceu na hora combinada, Daniela já havia jantado, subia as escadas para seu quarto, sequer deu um boa-noite. Cabral não entendia a grossura da jovem, jantou, recolheu-se cedo, leu um pouco, custou a dormir.

Durante a noite ouvia-se o forte retumbar dos trovões. Em certo momento João acordou-se com várias batidas na porta do quarto e a voz aflita de Daniela pedindo desesperada: -“Por favor, abra logo.” Cabral deixou a cama num salto, abriu a porta, Daniela entrou enrolada num lençol, deitou-se na cama, confessou com voz trêmula que morria de medo de raio e trovão. Cabral surpreso, fascinado pelo encanto da mulher-menina, sentou-se à cabeceira, buscou confortá-la, alisou a cabeça, mandou-a dormir à vontade, ele iria para o sofá. Surpreendeu-se quando ela puxou-o pelo braço pedindo: -“Vem para junto de mim cara!”

Abriu o lençol, estava apenas de calcinha preta, abraçou-o tomando os lábios. Irresistível, não houve outro jeito, se amaram feitos dois animais.

A noite continuou chuvosa, continuaram mudos nos intervalos de amor. Não conversaram, havia apenas gemidos na hora do prazer. A louca ninfeta sabia tudo do amor, perfeita na hora certa, nada foi aprendido, sábia de nascença, uma Deusa.

No dia seguinte Cabral acordou-se espreguiçando, olhou ao lado, de Daniela apenas o suave perfume de alfazema na cama vazia. O tempo havia melhorado. João Cabral tomou um banho, fez a barba, arrumou a mala e desceu. Durante o café da manhã percebeu Daniela pronta sentada numa poltrona com a mala, esperando a partida.

Entraram no carro e Daniela sentou-se na mesma posição, calada como se nada tivesse acontecido, como se Cabral fosse um estranho. Arrogante, cheia de soberba não sorriu sequer ao companheiro do amor noturno. Nariz empinado, fone no ouvido, não lhe dirigiu a palavra durante o resto da viagem, sequer deu um “obrigado” quando ele a deixou na casa de um tio no bairro do Farol.

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