DEU NO JORNAL

Alexandre Garcia

Liderados pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, partidos de centro debateram um acordo para viabilizar uma terceira via nas eleições de 2022

Neste ano que antecede a eleição presidencial e a de governadores, na semana passada houve movimentos que adicionaram nomes ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), indicando que há um objetivo nisso. Marcelo Freixo deixa o Psol e vai para o PSB; o governador Flávio Dino deixa o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e vai para o PSB, e fazem o mesmo o ex-ministro e deputado federal Orlando Silva e a ex-candidata a vice-presidente na chapa de Haddad, Manuela d’Ávila. As mudanças teriam recebido a bênção de Lula. Estranhamente, não foram reforçar o PT.

Pode-se imaginar que ficou pesado carregar a sigla PT, depois do que a Lava Jato mostrou, com tesoureiros do partido presos e o próprio líder máximo passando um tempo na cadeia e agora livre mas não inocentado. Ficou pesado também carregar a fama de partido radical, como o Psol e mais ainda a denominação comunista. O partido Comunista Brasileiro já havia se transformado em PPS – Partido Popular Socialista – mas até essa denominação foi descartada e hoje é Cidadania – um nome mais aceito.

O interessante é que esses movimentos são explicados como em direção à centro-esquerda, como se o PSB ou PSDB tivessem vergonha de dizer que são esquerda – e aí se abrigam numa periferia do centro. Na verdade, é uma inversão do que acontecia em anos anteriores a Bolsonaro, com partidos de direita que se abrigavam em cima do muro do centro, tal como o PFL, hoje DEM e o PL, por exemplo. A direita, por anos encolhida e camuflada, agora é mais explícita que a esquerda, que hoje está com receio de assustar a maioria flutuante que decide eleições.

E o centro, o que é? Hoje tem sido chamado de terceira via, e busca a imagem de virtuoso, pacificador, e alternativa entre a esquerda e a direita, como se polarização fosse um mal. A maior democracia do mundo sempre teve dois polos: Republicanos e Democratas, e funciona. Além de tudo, as mudanças reais nos países foram feitas por governos de esquerda ou de direita. É raro o centro fazer mudança. O centro costuma falar em mudança, sim; mas apenas finge para acalmar a necessidade de mudar. Mudar um pouco para não precisar mudar.

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