DEU NO JORNAL

Roberto Motta

Eu gostaria de ter uma explicação para tudo o que vem acontecendo no Brasil. Uma narrativa na qual os fatos se encaixassem, que esclarecesse todos os motivos e justificasse os acontecimentos. Infelizmente, não tenho essa narrativa e nem acredito que ela exista.

Há uma teoria que diz que todos os movimentos tectônicos que sacudiram o país nos últimos anos têm sua origem em informações capturadas pela chamada operação Vaza Jato, na qual hackers tiveram acesso a conversas privadas entre poderosos. Essas informações, segundo a teoria, teriam sido usadas para chantagear tomadores de decisão em todos os Poderes. Isso explicaria por que muitas figuras públicas mudaram completamente de posição em relação a certos assuntos.

O argumento é convincente e a vontade de aceitar uma teoria assim é forte. Mas os últimos anos me deixaram calejado e descrente. O que significa dizer que fiquei cada vez mais conservador, cada vez mais cético e desconfiado de tudo: de políticos e ativistas que surgem do nada com soluções mágicas (soluções que claramente os beneficiam antes de beneficiar qualquer outra pessoa), de narrativas sedutoras demais, de projetos e manifestações extremamente satisfatórios do ponto de vista emocional, mas cujos resultados são nulos ou negativos. Perdoem-me se duvido de tudo – mas duvido cada vez mais.

Dizem que o conservadorismo é a política da prudência. Minha reflexão é que hoje pagamos o preço de termos sido imprudentes. É um preço tão alto quanto o que se paga pela covardia. Foram covardia e imprudência que permitiram que o pensamento esquerdista controlasse o sistema de justiça criminal. Entre inúmeras depredações, os ideólogos resolveram usar a “audiência de custódia” como instrumento de controle da população prisional. Em outras palavras: ao invés de aumentar o número de celas para abrigar o crescente número de criminosos presos, optou-se por soltar o maior número possível de detentos (ou “apenados”, “reeducandos” ou “pessoas privadas de liberdade”, segundo a novilíngua progressista).

Os resultados dessa política são terríveis. Gabriel Mongenot, 25 anos, foi assassinado em Copacabana no dia 19 de novembro. Gabriel foi morto com uma facada no tórax por um criminoso habitual, com registros de assalto e homicídio, que havia sido solto em uma audiência de custódia menos de 12 horas antes. A culpa do assassinato de Gabriel não está com o juiz que soltou o assassino; ele apenas seguia o que mandam a lei e as prováveis orientações do seu Tribunal. A culpa pela morte de Gabriel pertence a todas as pessoas – filósofos, jornalistas, legisladores, advogados, defensores, promotores e magistrados – que seguem a orientação do maior jurista brasileiro da atualidade: Karl Marx.

A toxina da luta de classes dá aos operadores do direito a desculpa intelectual e moral para subverter os fundamentos jurídicos em nome da redução da desigualdade. O que salta aos olhos de qualquer observador é que esses juristas marxistas – ou marxistas juristas – estão, eles próprios, situados nas camadas mais ricas da sociedade. É evidente. Porque a ciência de aplicar marxismo ao Direito custa caro.

A esquerda é extremamente rápida em usar acontecimentos contemporâneos para promover iniciativas legislativas. Essa é uma lição que a direita poderia aprender. Esse é o momento de propor ao Congresso Nacional o projeto da Lei Gabriel Mongenot, que acaba com a audiência de custódia em seus moldes atuais e a transforma, de um serviço de atendimento ao criminoso onde só ele tem voz, na primeira audiência do processo criminal, na qual serão ouvidos não apenas os criminosos, mas as vítimas, as testemunhas e os policiais, estabelecendo-se a justiça e acelerando o andamento dos processos. Para que a vítima possa ser tratada, no mínimo, com o mesmo respeito e atenção com que são tratados os criminosos.

Estancar a sangria da audiência “de custódia” é só o primeiro passo de uma longa caminhada. Ela só terminará quando Marx, Foucault, Ferrajoli e todos os detritos revolucionários tiverem sido exorcizados dos tribunais e escolas de Direito. Em nome dos milhares de vítimas inocentes que são sacrificadas aos criminosos todos os anos. Em nome de Gabriel Mongenot.

2 pensou em “A LEI GABRIEL MONGENOT: AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA PRECISA MUDAR

  1. Caso tenha sucesso — o que é altamente improvável —, tal iniciativa seria uma gotícula no oceano de irregularidades, malfeitos, desencaminhamentos e aberrações que cercam tanto o processo de execução penal quanto o próprio cerne de nosso poder judiciário. Medidas assim sequer arranhariam a ditadura judiciária ora em curso…

  2. “Minha reflexão é que hoje pagamos o preço de termos sido imprudentes”

    Nós conservadores fomos imprudentes?

    A movimento contra revolucionário de 64 veio para conter o avanço comunista em nosso país, mas não conseguiu seu intento, pois perdeu a guerra cultural desenvolvida neste período.

    A retirada dos comunistas do poder funcionou bem até que Castelo Branco morreu de forma suspeita em 17/09/67 em um acidente jamais explicado.

    Castelo já tinha saído da PR, mas daí vieram presidentes desenvolvimentistas, que tiraram Roberto campos da condução da economia, colocaram Delfim Neto e a coisa desandou.

    Houve perseguições políticas a terroristas e simpatizantes, mas figuras como o Molusco foram gestadas nos quartéis pelo Poder.

    Eu mesmo não era conservador nesta época (nem comunista), porém fui iludido de que a mudança dos militares e a vinda das eleições diretas para PR iria mudar o país para melhor. Aí eu errei.

    Faz parte do amadurecimento e de não termos uma reação mais forte no BR contra a esquerda.

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