CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

OS MESMOS URUBUS

Ali sempre estavam eles…
Eram centenas, milhares,
Com seus voos circulares,
Boçais, garbosos à beça,
Nos céus brincando sem pressa,
Como senhores dos ares…

Ali sempre estavam eles…
Vestidos muito a rigor,
Em preta e retinta cor.
Naquele horrível mormaço
Eles brincavam no espaço,
Dos ventos, indo ao sabor.

Ali sempre estavam eles…
Uns nos céus, outros no chão,
Em meio à putrefação…
Pra eles – fartura e festa,
Para nós – cena funesta
Dos horrores do Sertão.

Faz muito tempo… a saudade
Ao meu rincão me conduz…
– Mesmo sofrer, mesma cruz,
Mesma dor, mesma tristeza…
A sede, a fome, a pobreza
E os mesmos urubus…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *