FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Confesso que muito me sensibilizei, nas miniférias recentes em Gravatá, lendo dois livros sobre um médium famoso, brasileiro simples, quase sem instrução, tido e havido como um dos maiores agentes de cura de todos os tempos, utilizando rápidos procedimentos na extração de tumores, sem a utilização de qualquer meio anestésico.

O primeiro livro: Arigó e o espírito do dr. Fritz: a verdadeira história do médium que curou mais de 2 milhões de pessoas e inspirou o filme Predestinado, John G. Fuller, São Paulo, Editora Pensamento, 2022, 264 p. Páginas que explicitam um relato histórico sobre um médium que recebia o Espírito de um famoso médico, Dr. Adolf Fritz, eternizado em 1918, e que falava corretamente alemão quando efetivava os procedimentos de cura. Até hoje sem explicações oferecidas por cientistas dos quatro cantos do mundo.

Nunca assisti um procedimento feito pelo Zé Arigó através do Dr. Fritz, embora tenha assistido, no Recife, uma sessão de quatro horas comandada pelo Dr. Edson Queiroz, médico ginecologista que atendia na FEP – Federação Espírita de Pernambuco, situada na Av. João de Barros, que também incorporava o alemão.

O segundo livro, Arigó e suas incríveis curas, Juliano P. Fagundes, Capivari SP, Editora EME, 2022, 192 p., revela as práticas de um dos maiores médiuns de efeitos físicos sob a luz da ciência material e espiritual, tendo o Fagundes também escrito amplos esclarecimentos em um outro livro, intitulado Autocura à luz do Espiritismo, editado pela EME.

Para quem ainda não sabe, José Pedro de Freitas (Congonhas do Campo, 18 de outubro de 1922 (ou 1921) — Congonhas do Campo, 11 de janeiro de 1971) foi um famoso médium brasileiro. Era conhecido como José Arigó ou simplesmente Zé Arigó. Desenvolveu suas atividades espirituais em Congonhas, SP, durante cerca de vinte anos, tornando nacional e internacionalmente conhecidas as cirurgias atribuídas a um espírito que se denominava Dr. Adolf Fritz.

Por volta de 1950, Arigó começou a apresentar fortes dores de cabeça, insônia, percebendo visões (uma luz descrita como muito brilhante) e uma voz gutural (em idioma que não compreendia) que o fizeram acreditar encontrar-se à beira da loucura. A situação perdurou por cerca de três anos, durante os quais visitou médicos e especialistas, sem melhoras.

De acordo com seus biógrafos, certo dia, em um sonho nítido, a voz que o atormentava foi percebida por Arigó como pertencendo a um personagem robusto e calvo, vestido com roupas antigas e um avental branco, supervisionando uma equipe de médicos e enfermeiros em uma grande sala cirúrgica, em torno de um paciente. Após o sonho ter se repetido por várias vezes, o personagem apresentou-se como sendo Adolf Fritz, um médico alemão desencarnado durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), sem que tivesse completado a sua obra na Terra.

Embora não pudesse compreender o idioma alemão, Arigó entendeu a mensagem que o personagem lhe dirigia. Ele fora escolhido pelo Dr. Fritz para complementar sua obra. Outros espíritos, de médicos e de enfermeiros desencarnados o auxiliariam. Ainda de acordo com os seus biógrafos, Arigó acordou desse sonho tão assustado que saiu correndo, nu, aos gritos, ganhando a rua. Parentes e amigos o trouxeram de volta ao lar, onde chorou copiosamente.

A partir de então, uma força que Arigó reputava como “estranha” passou a utilizar-se de suas mãos rudes para manejar instrumentos também rudes, em delicados procedimentos cirúrgicos, no atendimento a enfermos e aflitos. Entre os casos de personalidades atendidas por Arigó por volta de 1950, relaciona-se o do futuro Senador Carlos Alberto Lúcio Bittencourt, então candidato a Deputado Federal. Diagnosticado como portador de câncer nos pulmões, os médicos haviam recomendado ao candidato a imediata cirurgia, de preferência em hospital estadunidense, embora com poucas esperanças. Optando por adiar a cirurgia para depois da campanha eleitoral, Bittencourt, em visita a Congonhas, conheceu Arigó. Impressionado com o seu carisma, ele convidou Arigó para juntos irem a Belo Horizonte para um comício. Aceito o convite, ficaram hospedados juntos no mesmo hotel. Segundo o relato do próprio, já estando recolhido ao leito em seu quarto, preocupado com a sua condição de saúde, percebeu a porta se abrindo, e um vulto, que parecia ser de Arigó, entrando e acendendo a luz. Era realmente Arigó, que se aproximava com uma navalha na mão. Assustado, ele tentou se pôr de pé, mas sentiu-se dominado por uma prostração que o fez cair, adormecido, sobre o leito. Na manhã seguinte, ao acordar, constatou que o seu pijama estava cortado nas costas, sujo de sangue. O tumor cancerígeno fora removido, encontrando-se o futuro senador plenamente restabelecido.

Apesar de possuir ampla mediunidade, Arigó tinha formação católica tradicional e seu nome, a rigor, não se associava formalmente nem ao Espiritualismo nem ao Espiritismo. Apesar da desaprovação da Igreja Católica (com quem, entretanto, não criou inimizades) e das autoridades civis, Arigó fundou uma clínica à Rua Marechal Floriano, em Congonhas, onde chegava a tratar, gratuitamente, até duzentas pessoas por dia, oriundas da região e dos diversos Estados do país, também da América do Sul, da Europa e dos Estados Unidos.

Entre as dificuldades de ordem legal enfrentadas por Arigó, destaca-se o processo instaurado em 1956 pela Associação Médica de Minas Gerais, sob a acusação de prática de curandeirismo, pelo qual foi condenado a quinze meses de prisão (1958), tendo sua pena reduzida à metade, não chegando a ser preso pelo indulto concedido pelo então Presidente da República Juscelino Kubitschek, cuja filha também havia sido atendida pelo médium, sendo diagnostica com dois cálculos renais.

Anos mais tarde, responderia a novo processo, sendo detido por sete meses em Conselheiro Lafaiete (MG), pelo exercício ilegal da medicina. Continuou a prática mediúnica mesmo dentro dos muros do presídio, tendo retornado a Congonhas com prestígio ainda maior.

Nessa época, o estadunidense Henri Belk, fundador de uma instituição para pesquisa de fenômenos paranormais, acompanhado por Andrija Puharich (ou Henry K. Puharich), especialista em bioengenharia, deslocaram-se até Congonhas, acompanhados por dois intérpretes da Universidade do Rio de Janeiro e por Jorge Rizzini, conhecido pesquisador espírita brasileiro, para iniciar uma pesquisa com Arigó (1963). Na ocasião, o Dr. Puahrich teve extraído um lipoma de seu cotovelo esquerdo, em um procedimento indolor que consumiu apenas alguns segundos, executado com um canivete comum. A incisão de menos de 5 centímetros, com pouco sangue, não inchou, conforme documentado em filme efetivado por Rizzini, vindo a cicatrizar completamente, sem infecção.

Incorporado, Arigó utilizava-se de facas e canivetes para extrair quistos e tumores. As incisões eram pequenas, se comparadas aos procedimentos cirúrgicos praticados à época, muitas vezes menores que o material extraído. Por vezes, durante a intervenção, Arigó ditava uma receita, datilografada por um de seus assistentes, para ser entregue ao paciente.

Arigó morreu em 11 de janeiro de 1971, em um acidente de carro na rodovia BR-040.

4 pensou em “ZÉ ARIGÓ E AS CIRURGIAS ESPIRITUAIS

  1. Fernando, há um pensamento de que os médiuns que incorporam Fritz desencarnam de modo violento. Arigó e Edson Queiróz experimentaram isso. Tem um médium, Rubens Faria, que começou nos anos 1980 a incorporar Fritz, mas a fazer cirurgias a partir de 1990. Ele é engenheiro elétrico e eu já um documentário que fizeram com ele, operando, e uma entrevista dele a Jô Soares e diga-se achei muita que ele forçou a barra em alguns momentos, dando a entender que Fritz estava presente, etc. Não sei como anda as cirurgias dele. Não sei se parou, mas lembro que ele foi acusado de prática ilegal da medicina. Interessante. Vou comprar os livros

  2. Caríssimo Assuero:
    Este Rubem Faria eu não conheço. Se existir algum livro sobre ele, me avise.
    Um abração natalino fraternal.
    Fernando

    • Fernando, não sei se tem livro sobre ele, creio que não, mas você pode ver a trajetória – e os erros – no google. Foi dito que ele cobrava pelas cirurgias e pelo aluguel das cadeiras de espera, algo como R$ 20,00. Se tem grana envolvida, não tem kardecismo.

      • Não deve ser um kardecista. Mais parece um escroquecista!!!!
        Já saiu da minha faixa pesquisal!!
        Obrigadíssimo.
        Vc sempre arretado de muito ótimo!!

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