JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Minha Avó (“gênia”) Raimunda Buretama

A vida é uma dádiva concessiva de Deus. Acordar a cada novo dia, é um milagre que, quando entendermos a vida, poderemos entender, também, essa “renovação” (lembro da letra que apareceu numa canção: “a vida se renova a cada instante”).

Deus, o Onipotente, como responsável por cada ser vivo que a Terra experimentou, experimenta e experimentará, colocou em nosso meio, pessoas que, inteligentes ou não, geniais ou não, se comunicam mais facilmente com Ele. Acho que minha Avó – Raimunda Buretama – foi uma dessas pessoas. E nós, netos, tivemos o privilégio de conversar com ela. De aprender com ela, principalmente a escolher o caminho certo e a conviver com as pessoas certas.

Claro que Vovó não é a autora de alguns “dizeres populares” – mas conhecia tantos, e conosco os dividia em forma de ensinamentos.
Lembro bem: “meu fio, se vosmecê quiser conhecer uma pessoa, abasta cumê uma saca de sal com ela”.

Explico. Na época que ela falava isso, “comer uma saca de sal” levava tempo. O sal era em pedras (grosso) e precisava ser socado num pilão para ser usado na cozinha e em outras necessidades – a grande maioria sequer conhecia geladeira, e precisava “salgar” quase tudo. Esse tempo seria suficiente para conhecer alguém.

O que nos leva à refletir, é que, naquele tempo não existiam tantos doutores e mestres quanto hoje – isso, se levarmos em conta que muitos dizem que a educação (no sentido de escolarização) é a base de tudo.

Parte da saca de sal grosso

Mais uma vez lhes digo: Vovó não era “doida” (maluca, pirada ou coisa que o valha), mas tinha o hábito e o prazer de conversar com os animais que criava e com algumas árvores.

Muitas vezes foi flagrada por nós com esse tipo de diálogo com o cajueiro: “meu bixim, neche ano vosmecê vai butar uns cajuzins bem docim, né?”

Ou, ainda, com um beija-flor que ela cismou que lhe pertencia e, na maioria das vezes com a gata que ganhara de presente e passou a criar para evitar a proliferação de ratos e troíras.

A galinha poedeira que ninguém conseguia pegar

Outro dito popular – que também não garanto que era da autoria dela – que dizia sempre, tentando dar algum aviso: “quem quer pegar galinha, não diz xô”!

Pois é. Se você quiser conhecer alguém, com quem queira tentar comer uma saca de sal, trate bem. Não seja grosseiro e tente sempre compreender mais do que ser compreendido.

É a vida. Escola nenhuma ensina isso. Nenhuma graduação, nenhum mestrado e muito menos doutorado vai equivaler ao grau de ensinamento da escola da vida.

2 pensou em “VOVÓ SABIA DE TUDO (OU QUASE TUDO)

  1. Prezado Senhor José Ramos. Minha mãe, quando eu era criança, (tenho 79 anos) dizia que só se conhece uma pessoa após comer junto um quilo de sal. Ela simplesmente reduzia um período realmente longo,na visão dela, o qual só após as contradições vividas em conjunto tornavam uma convivencia satisfatória. Sua avó realmente era um genio.
    Thomaz (São Bernardo do Campo – SP)

    • Thomaz, agradecido! Eu tive a sorte e a honra de conviver com ela. Aprendi muito – nenhuma escola me ensinou o que ela ensinava.

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