No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
– Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
“No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,”
Florbela gostava de se arriscar em encontros carnais aleatórios.
O corpo da rapariga estava prometido à morte e esta veio aos 35 anos lhe cobrar a blasfêmia.
Pobre alma.