Um homem de meia idade, morador da periferia de uma região metropolitana, vendia cachorro-quente a preços bastante acessíveis. Era meio surdo e detestava rádio, não lendo jornais porque sofria da vista, uma miopia braba que o atormentava desde a juventude. Mas tinha aprendido com seus avós a fazer um tipo de cachorro-quente que era muito consumido, sem segundo lugar, tido e havido como o melhor de todos os bairros que constituíam a área sul da capital.
Diante do sucesso de suas vendas, tinha afixado uma tabuleta à beira da avenida, onde apregoava a boa qualidade do seu produto. E ainda bradava, nos horários de maior trânsito e com uma frequência que até incomodava, uma frase de efeito:
– Cachorro-quente dezoito quilates, o melhor do Nordeste!
Aumentada a freguesia, e, consequentemente, a compra de carnes e pãezinhos, resolveu adquirir um fogão maior, a fim de atender melhor os clientes, novos e veteranos. Conversando com um vizinho, desses que veem o mundo permanentemente nas trevas, tudo na mais absoluta escuridão, dele recebeu uma advertência:
– Amigo, não tens ouvido rádio? Dizem que o dinheiro está rareando, que todo mundo ficará em má situação, acontecendo uma grande crise, os negócios indo por água abaixo.
Aí, o cachorroquenteiro, que detestava rádio e ainda ouvia pouco, míope da gota serena, resolveu não mais adquirir ums fogão maior. Apressou-se em diminuir as compras de carne e pãezinhos e ainda pôs abaixo o cartaz pintado a óleo que era seu chamariz principal. E não mais gritou, apregoando as boas qualidades do seu produto.
Com as vendas em declínio, o nada-fazer foi se instalando no seu pedaço existencial, o vizinho se tornando um grande identificador de crises homéricas. Os dois passaram a prognosticar uma época de muitas incertezas, um futuro depressivo para os diferenciados ramos de negócio, posto que o fim dos tempos se aproximava.
A motivação voltou quando o cachorroquenteiro ouviu de um neto o que estava escrito num canto de um jornalzinho de uma localidade próxima:
“Quando triunfar, vai fazer falsos amigos e verdadeiros inimigos, mas continue em frente. O que leva dias para construir pode ser destruído num instante, mas construa assim mesmo. Dê ao mundo o que tiver de melhor, pois você colherá o que semeou.”
Todo negativista é recheado de mil e um complexos, é autoritário, inculto e detesta ver o sucesso dos outros, sempre se acercando de incompetente babaovistas que não possuem pensar crítico, sempre se comportando como boi de boiada, sempre segurando o “aquilo” dos chefes imediatos.
Todo negativista pouco se lixa para toda MDI – Metodologia de Desabestalhamento Integral, preferindo conviver com alucinados aplaudidores frenéticos, igualmente idiotizados, que nunca leram a declaração-prognóstica do ex-ministro da Educação Darcy Ribeiro, fundador da Universidade de Brasília:
“Três direitos fundamentais precisam ser devolvidos ao Brasil excluído:
O direito de saciar a fome,
O direito de ter uma casa decente, e o
Direito à escola boa para todas as crianças.”
Saibamos efetivar sempre a diferença entre inteligências decisórias que dignificam e merdalidades posturais que apenas humilham povos e nações.