Guilherme Macalossi
O mapa eleitoral norte-americano foi pintado de vermelho vivo na última terça-feira, dia 5 de novembro. A data marcou a vitória e o triunfo supremo de Donald Trump e sua volta para a Casa Branca, numa das maiores reviravoltas políticas da história da democracia ocidental. O recado da população para certa elite progressista foi pungente. A vitória do candidato republicano foi tão avassaladora e completa que obrigará o Partido Democrata e as esquerdas a se reinventarem, sob pena de sofrerem derrotas ainda maiores no futuro.
Além do Executivo, com a vitória de Trump em todos os estados pêndulos, os republicanos elegeram também a maior parte dos governadores e obtiveram maioria nas casas legislativas federais e estaduais. É o que, nos Estados Unidos, costuma se chamar “landslide”. No linguajar político brasileiro o equivalente é: fez barba, cabelo e bigode. Ao contrário de 2016, quando foi eleito pela primeira vez através da regra do Colégio Eleitoral, em 2024 Trump também ganhou no voto popular, com uma diferença considerável de Kamala Harris.
Para espanto dos democratas e intelectuais progressistas, Trump melhorou seu desempenho em quase todos em segmentos étnicos e sociais, incluindo homens e mulheres negras, assim como latinos. Seu discurso político e econômico furou a bolha da idealização sociológica que a esquerda faz desses grupos, dialogando diretamente com indivíduos que viram suas condições básicas se deteriorarem, principalmente com a inflação incomum que se identificou nos Estados Unidos.
O voto americano é mais prático do que ideológico. Ainda que o discurso politicamente correto tenha virado um veneno corrosivo na sociedade, e Trump tenha se tornado o símbolo máximo na luta contra isso, o que o eleitor médio quer é oportunidade, emprego e possibilidade de prosperar. Kamala era uma péssima candidata, escolhida apenas pela conveniência pragmática da elite do Partido Democrata e ficar com os recursos já arrecadados pela campanha de Joe Biden. Foi o desastrado governo do atual mandatário, entretanto, o grande responsável pela derrota.
Em certos círculos do dito “progressismo”, agora se atribui a derrota de Kamala Harris à misoginia. A “tese” é de que o eleitorado majoritário não quer uma mulher governante. É esse tipo de lixo intelectual pedante que foi repudiado nas urnas. Alguns dias antes da eleição, o próprio Biden chamou os apoiadores de Trump de “lixo”. É o tipo de declaração que não sai impune. Não há nada mais estúpido do que julgar e ofender o eleitorado por sua escolha. Pode-se discordar, por óbvio. Mas toda decisão eleitoral tem fundamento lógico e é baseado no cotidiano das pessoas.
O recado da população dos Estados Unidos com a vitória de Trump foi claro, mas a tal elite, que deseja ser régua moral e comportamental da sociedade, parece continuar a ignorá-lo. Não aprenderam nada e não esqueceram nada, como disse certava vez Charles-Maurice de Talleyrand aos Bourbon. Ao invés de admitirem seus erros, os acadêmicos, parte da imprensa, artistas e engenheiros sociais bem remunerados resolveram culpar o povo. Continuarão a pagar o preço nas urnas.