Garrafas vazias “valiam ouro”
Vou ao êxtase quase orgástico, quando, quase oitentão, pego um barquinho de papel e me deixo transportar em sonhos e lembranças pelas corredeiras do caudaloso rio da vida.
Um prazer indescritível voltar ao passado – relembrando as coisas boas e atos dignificantes.
Roubar as meias de náilon do pai para fazer as bolas usadas nos jogos de “gol a gol” das tardes em traves montadas com pedras e tijolos nas ruas ainda por asfaltar. Era apenas um entretenimento.
Lembro bem que, naqueles tempos, a chuva não provocava enchente nas ruas e bairros. A água encontrava facilmente o lençol freático e seguia seu caminho traçado pela geologia da Natureza.
Jogar chuço, castelo de castanhas de caju, peteca ou bola de gude. A meninada de hoje não conhece esses apetrechos e suas utilizações. Só os celulares com smartphone e muitos “apps”.
“Eu preciso te falar,
Te encontrar de qualquer jeito
Pra sentar e conversar,
Depois andar de encontro ao vento.
Eu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia,
E na pele quero ter
O mesmo sol que te bronzeia,
Eu preciso te tocar
E outra vez te ver sorrindo,
E voltar num sonho lindo
Já não dá mais pra viver
Um sentimento sem sentido,
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo,
Ver o sol amanhecer,
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingo.”
Utensílios imprestáveis de alumínio
As tardes dos domingos eram especiais. Lembro bem. Lembro muito bem. Menino pobre, filho de pais pobres que se deleitavam quando viam que os pratos colocados à mesa, não estavam de todo vazios. Havia alguma coisa para aplacar a fome. Comida comprada com o dinheiro do trabalho honesto. Aquilo era edificante. E serviu como bons paralelepípedos, calçando as estradas da vida.
Quantas e quantas vezes este quase oitentão saía procurando nos pés das cercas e muros, as garrafas vazias ou panelas velhas e peças de alumínio que não tinham mais utilidade e eram jogadas fora.
Uma vez por semana, toda semana, o homem montado num animal, passava pelas ruas do bairro comprando garrafas vazias e peças de alumínio sem uso. Pagava bem.
O dinheiro “apurado” garantia o ingresso ao cinema nas tardes dos domingos. Também comprava revistas em quadrinhos, e até sobrava para comprar figurinhas para preencher os álbuns.
Tempos bons. Tempos idos que não voltam mais. Mas que fizeram parte da vida honesta e simples de muitos.
Da minha, inclusive.
Eita meu caro José, colega de turma dos “quase oitentão”: ler sua coluna aos domingos é uma volta doce e serena ao passado. Vejo na sua escrita uma parte de minha vida. Valeu!!!
Tenha um final de semana com muita paz, saúde e alegria junto aos seus queridos.
Abraços,
Magnovaldo
Magnovaldo, obrigado. Feliz os que, segurando na mão de Deus conseguiram ultrapassar todos os empecilhos, para esperar a “oitentena” bater na porta para trazer pessoalmente os parabéns.
Prezado ZéRamos, ler sua coluna aos domingos é um bálsamo, é como assistir a um filme nostálgico e hipotético. chamado “De volta ao Passado” no qual me sinto protagonista. Talvez porque temos a mesma idade, nascemos no mesmo torrão e tivemos mais ou menos a mesma vida e, em especial brincadeiras. Você consegue abrir um baú escondido nos cafundós do meu cérebro e trás a tona lembranças do “menino” que já fui um dia. Obrigado e um excelente domingo.
Marcos, dava um trabalho danado juntar garrafas e panelas velhas, mas o resultado era melhor que “roubar celular para tomar uma cervejinha”, nera não?
Meu cumpade Zé Ramos,
Suas crônicas líricas publicadas nesse espaço nobre aos domingos, são um colírio ao nosso cérebro infestado de princípios nazistas, principalmente vindo da GLOBOLIXO!
Garrafas vazias “valiam ouro”. Vivi essa época de ouro.
Parabéns pela lucidez.
Cumpade Cicinho, “aubrigado”! Concordo com alguém que já disse escrevendo: tudo que a Globo mostra, o faz pela televisão. A televisão é um aparelho doméstico que carrega um controle remoto, que tá dá autoridade para desligar ou mudar de canal. Você e outros é que correm atrás da Globo para ver e ouvir mentiras! Se você gostar de filme de ação, procure na tv fechada o Canal 71. Repete os filmes – e a gente com o estado psicológico diferente de um dia para outro, mesmo tendo visto aquele filme várias vezes, vai achar que está vendo um novo filme.
Parabéns pela belíssima crônica, querido escritor José Ramos! Nada melhor para a nossa alma, do que relembrar os tempos felizes da nossa vida.
A figura do garrafeiro me lembrou Nova-Cruz, minha terra natal. Lá, também, passava um comprador de garrafas, diariamente.
Essas lembranças nos acompanharão por toda nossa vida!
Grande abraço! Muita saúde e paz!
Violante, obrigado. Dê um abraço forte, maternal e carinhoso em Diana.