ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

Pinto de Monteiro

O escritor e advogado Ivo Macena, de Tabira/PE, escreveu uma biografia de Severino Lourenço da Silva Pinto (1895-1990), conhecido como Pinto do Monteiro, um dos maiores representantes do admirável universo do repente.

Um trabalho excelente, cujo título é “Pinto Velho de Monteiro” e enviou um exemplar para o poeta e repentista Geraldo Amâncio que escreveu os seguintes versos:

Meu caro Ivo Macena
Escritor sábio e distinto,
O seu livro sobre Pinto
É um primor, vale a pena.
O tempo só armazena
Se a gente guardar primeiro.
Você pintou sem tinteiro
Magistralmente os valores
Do maior dos cantadores
Pinto Velho do Monteiro.

Era humilde e educado,
Freava o dom, o valor
E poupava o cantador
Que cantava do seu lado.
Porém se fosse atacado
Aí virava um guerreiro,
Perverso, ingrato e grosseiro,
Impiedoso e valente,
Número um do repente
Pinto Velho do Monteiro.

Com raiva ele parecia
A força da tempestade,
Do raio a velocidade,
Com trovão e ventania.
No seu estro conduzia
O vigor de um marrueiro.
Que escavava terreiro,
Insultando antagonistas,
A força dos repentistas
Pinto Velho do Monteiro.

Dizer que Pinto foi gênio
Só do século passado,
É deixar meio apagado
O astro no seu proscênio.
Foi o maior do milênio
De todos do mundo inteiro.
No Brasil, no estrangeiro,
Nunca houver igual a ele,
Nem haverá depois dele.
Pinto Velho do Monteiro.

11 pensou em “UMA HOMENAGEM A PINTO DO MONTEIRO

  1. Já li muito sobre Pinto do Monteiro, mas desconhecia essa homenagem do repentista cearense Geraldo Amâncio. Todas as estrofes são muito bem feitas e descrevem a personalidade e o valor desse desbravador da arte de fazer versos de improviso. Considero antológico o último decassílabo:Dizer que Pinto foi gênio/Só do século passado,/É deixar meio apagado/O astro no seu proscênio./Foi o maior do milênio/De todos do mundo inteiro./No Brasil, no estrangeiro,/Nunca houver igual a ele,/Nem haverá depois dele./Pinto Velho do Monteiro.

    • Grato por seu ilustre comentário. Gosto muito de pesquisar o prazeroso trabalho de pesquisar o admirável mundo do repente e quando encontrei essa cortesia de Geraldo Amâncio ao genial Pinto do Monteiro (1895-1990), imediatamente, preparei o artigo para compartilhar com os leitores fubânicos. Aproveito esse espaço democrático do JBF para enviar um episódio sobre Pinto do Monteiro.

      Certa vez, Pinto do Monteiro (1895-1990 foi cantar numa cidade e chegando lá hospedou-se na casa do parceiro cantador. Ao iniciar a cantoria, como lhe era natural, Pinto começou a sobrepor-se ao colega. Acuado, o cantador fez um verso passando a mensagem que Pinto agora estava pisando ele, mas tinha comido de sua bóia. A Cascavel de Monteiro não se fez de rogado e disparou:

      Eu comi lá na tua casa
      Um tal de feijão macaça
      Pouco, puro, preto, podre
      Chafurdado da fumaça
      E se o problema for esse
      Eu pago aquela desgraça.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  2. Gosto de ler este artigo porque sempre me surpreendo com abordagem de assuntos diversos. Geraldo Amâncio prestou uma deferência a um dos maiores cantadores de todos os tempos. Muitos admiradores do repente têm através desses versos do repentista cearense como avaliar o talento de Pinto do Monteiro. Gostei de todas estrofes, principalmente da terceira: Com raiva ele parecia/A força da tempestade,/Do raio a velocidade,/Com trovão e ventania./No seu estro conduzia/O vigor de um marrueiro./Que escavava terreiro,/Insultando antagonistas,/A força dos repentistas/Pinto Velho do Monteiro.

    • Dione,

      Agradeço seu gentil comentário que constitui um estímulo para pesquisar a poesia pura dos poetas do repente. Pinto do Monteiro (1895 – 1990) foi um poeta popular, compositor e repentista que se destacou pelo talento e deixou seu nome na seleção dos melhores cantadores de viola de todos os tempos. Filho de uma doméstica com um tropeiro, chegou a trabalhar como vaqueiro, vendedor de cuscuz, auxiliar de enfermagem e guarda do serviço contra a malária. Foi também soldado no combate aos bandos de cangaceiros. Casou-se quatro vezes e aprendeu a ler e a escrever já depois de adulto.

      Compartilho com a prezada amiga uma sextilha de Pinto do Monteiro(1895-1990):

      Aonde eu chego, não vi
      Mal que não desapareça
      Raposa que não se esconda
      Bravo que não me obedeça
      Letrado que não me escute
      Cantor que não endoideça.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  3. O tributo do repentista Geraldo Amâncio a Pinto do Monteiro é muito justa. Terminei de ler o livro “Pinto Velho do Monteiro” , de autoria do escritor Joselito Nunes, que reverencia a memória de um dos maiores repentistas de todos os tempos, o paraibano Severino Pinto, conhecido em todo o Brasil como Pinto do Monteiro.
    “Pinto Velho do Monteiro” traz dados precisos sobre a biografia de Pinto do Monteiro, inclusive com reprodução de documentos, como a certidão de óbito, a carteira de identidade, um manuscrito de um poema. Estes versos Geraldo Amâncio traduz todo o valor de Pinto do Monteiro.

    • Muito obrigado pelo ótimo comentário. Agradeço também a dica do livro “Pinto Velho do Monteiro” , de autoria do escritor Joselito Nunes, que contempla a memória de um dos maiores repentistas de todos os tempos, o paraibano Severino Lourenço da Silva Pinto (1895-1990), conhecido como Pinto do Monteiro. Ele foi um dos maiores representantes do admirável universo do repente e seus versos estão na memória daqueles que admiram a poesia de qualidade de quem canta versos de improviso.

      A naturalidade e rapidez de improviso de Pinto do Monteiro na construção dos versos eram características marcantes em sua cantoria. Cognominado “A Cascavel do Repente”, o repentista era ágil, certeiro, veloz, e também venenoso e mortífero, se provocado não tinha papas na língua nem conveniências. E o contendor era obrigado a recuar porque, com sua peculiar fertilidade de versejar, era capaz de fazer uma segunda sextilha antes que o outro se refizesse do choque da primeira resposta.

      Compartilho uma sextilha do talentoso repentista Pinto do Monteiro (1895-1990) com o prezado amigo:

      Eu comparo esta vida
      à curva da letra S:
      tem uma ponta que sobe
      tem outra ponta que desce
      e a volta que dá no meio
      nem todo mundo conhece.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  4. Lendo o artigo fui surpreendida com versos de Geraldo Amâncio fazendo um belíssimo louvor a esse poeta superlativo, Pinto do Monteiro. Já ouvi dizer que o poder de criação e a velocidade de raciocínio de Pinto do Monteiro muitas vezes faziam as palavras tropeçarem umas nas outras, não pelo verso quebrado, absolutamente, mas quase engolindo sílabas, dada a ligeireza dos versos despejados em turbilhão. Gostei muito da segunda estrofe do tributo de Geraldo Amâncio: Era humilde e educado,/Freava o dom, o valor/E poupava o cantador/Que cantava do seu lado./Porém se fosse atacado/Aí virava um guerreiro,/Perverso, ingrato e grosseiro,/Impiedoso e valente,/Número um do repente/Pinto Velho do Monteiro.

    • Grato por seu comentário primoroso. Gostei demais da conta de suas palavras sobre a velocidade de Pinto do Monteiro (1895-1990). Esse fato corresponde a verdade e alguns pesquisadores dizem que as estrofes saiam tão rápidas que um verso dizia a outro: saia que eu quero sair!

      Envio para prezada amiga uma bela sextilha que Pinto do Monteiro (1895-1990) elaborou cantando sobre o exôdo rural do Nordeste:

      Os homens do meu Nordeste
      Estão desaparecidos
      Nas estradas de São Paulo
      Os caminhões entupidos
      Conduzindo os enganados
      Trazendo os arrependidos.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  5. Parabéns, Aristeu, pela excelente postagem,
    UMA HOMENAGEM A PINTO DO MONTEIRO!
    Como você disse:
    ” O escritor e advogado Ivo Macena, de Tabira/PE, escreveu uma biografia de Severino Lourenço da Silva Pinto (1895-1990), conhecido como Pinto do Monteiro, com o título de “Pinto Velho de Monteiro”, um dos maiores representantes do admirável universo do repente.”

    Ivo Macena enviou um exemplar do livro que narra a biografia de Pinto de Monteiro ao poeta e repentista Geraldo Amâncio, que, por sua vez, homenageou Pinto do Monteiro com belíssimos versos.

    Fiquei encantada com os versos do poeta e repentista Geraldo Amâncio, em homenagem a Pinto do Monteiro
    Destaco a primeira estrofe:

    “Meu caro Ivo Macena
    Escritor sábio e distinto,
    O seu livro sobre Pinto
    É um primor, vale a pena.
    O tempo só armazena
    Se a gente guardar primeiro.
    Você pintou sem tinteiro
    Magistralmente os valores
    Do maior dos cantadores
    Pinto Velho do Monteiro.”

    Uma ótima semana, com muita saúde, alegria e Paz!

  6. Violante,

    Geraldo Amâncio é poeta, repentista, e escritor reconhecido na Europa, particularmente em Portugal, onde participou de inúmeros eventos culturais. Ele conseguiu traduzir em versos a personalidade, o talento e a inteligência de Pinto do Monteiro.

    Pinto do Monteiro nasceu em 21 de novembro de 1895 no sítio Carnaubinha, no município de Monteiro, interior da Paraíba. Começou a cantar aos 24 anos de idade, antes de embrenhar na profissão de cantador foi vaqueiro e soldado de polícia do Estado da Paraíba. Nas suas andanças como cantador foi ganhando fama e se tornando o grande mito que até hoje permanece, sendo reconhecido como o maior cantador de todos os tempos.

    Com uma inteligência colossal, junto a uma enorme capacidade de improviso e ainda uma velocidade espantosa, Pinto, como é conhecido, assombrava os cantadores que o acompanhava nas pelejas, e deixava platéias em polvorosa com respostas irreverentes e rápidas.
    Pinto fez algumas parcerias memoráveis, como por exemplo, com os grandes poetas Lourival Batista e João Furiba. Percorreu o Brasil, deixando rastros de poesia e genialidade por onde passava, chegou a cantar para o presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra, sempre carregando consigo a essência do homem do sertão.

    Aproveito a ocasião para descrever um episódio desse gênio do repente. Certa vez, Pinto cantava com Otacílio Batista, este improvisa uma sextilha enfatizando a boca banguela de Pinto. O repentista de Monteiro responde que ao chegar na velhice o mesmo iria acontecer com ele, Otacílio então termina uma estrofe dizendo:

    Quando chegar esse tempo
    O senhor já tem morrido.

    Pinto responde com essa criativa sextilha:

    Mas meu espírito envolvido
    Muito além da sepultura
    Irá vagar pelo mundo
    Somente a tua procura
    Até que um dia te veja
    Cantando sem dentadura.

    Desejo uma semana plena de paz, saúde e a inspiração de sempre!

    Aristeu

  7. Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo a história de vida do poeta, repentista e escritor Geraldo Amâncio, conhecido na Europa, particularmente em Portugal, onde participou de inúmeros eventos culturais, e conseguiu traduzir em versos a personalidade, a inteligência e o talento do poeta Pinto do Monteiro.

    Achei impagável o episódio referente a Pinto de Monteiro, quando cantava com o poeta e repentista Otacílio Batista e este improvisou uma sextilha ironizando a boca banguela do parceiro de cantoria. Pinto de Monteiro, o grande poeta, não pensou duas vezes e respondeu à altura:

    “Mas meu espírito envolvido
    Muito além da sepultura
    Irá vagar pelo mundo
    Somente a tua procura
    Até que um dia te veja
    Cantando sem dentadura.”

    É gratificante saber que o Nordeste é berço de grandes poetas, repentistas e cantadores, que enriqueceram e continuam enriquecendo a cultura popular brasileira.
    Obrigada pela excelente aula sobre Pinto do Monteiro e Geraldo Amâncio!

    Gostei imensamente deste registro:

    “Pinto fez algumas parcerias memoráveis, como por exemplo, com os grandes poetas Lourival Batista e João Furiba. Percorreu o Brasil, deixando rastros de poesia e genialidade por onde passava, chegou a cantar para o presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra, sempre carregando consigo a essência do homem do sertão.”
    Sensacional!
    Desejo a você também uma semana plena de paz, saúde e inspiração!

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