FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Desde o meu primeiro ano de Universidade Católica de Pernambuco, Curso de Economia, uma figura de jesuíta me impressionava, pelas discussões que proporcionava nos encontros temáticos que se efetivavam em nossa vida acadêmica daquela época, 1963, recheada de muitos eflúvios intelectuais advindos do governo de então, Sudene, ISEB, Padre Melo e Francisco Julião, Celso Furtado, Sudene, Vaticano II, JEC e JUC, Paulo Freire, conspirações golpistas e Universidade de Brasília: Teilhard de Chardin, de nome completo Pierre Marie Joseph Teilhard de Chardin, falecido em 1955. Um teólogo considerado um dos maiores gênios do século XX, cuja obra, depois de sua morte, deixou a semiclandestinidade dos textos policopiados, e passou a ser editada pelas Éditions du Seuil. No Brasil, sendo publicado os primeiros textos dez anos depois.

Ouvi algumas discussões e, estudante primeiranista de Economia sem muita coisa de ciências humanas na cachola, confesso que quase nada, ou nada mesmo, entendia do transmitido pelos especialistas, muito embora o entusiasmo pró Chardin de alguns participantes tenha penetrado em meu interior de ainda quase adolescente semi-alienado. Menos pelos apartes contundentes emitidos por pessoas vinculadas a ontens que não mais retornariam, mais pela personalidade daquele jesuíta, que muito marcou meu interior de cristão à época muito negativamente acordeirado.

Li O Fenômeno Humano, 1966, editado pela Cultrix, ficando quase na mesma, muito embora já percebendo que os de mente mais abertas aplaudiam o pensar daquele que tivera seus livros retirados das bibliotecas e instituições religiosas, também proibidos de exposição nas livrarias católicas, por decreto do Santo Ofício, em dezembro de 1957, felizmente quase nunca obedecido. Uma desobediência inspirada, certamente, que muito favoreceu, quando do centenário de nascimento de Chardin, em 1981.

Para quem, além da leitura do livro, desejar se aprofundar em outros escritos chardinianos, duas boas direções: o Centro de Documentação Teilhard – Caixa Posta 9112, CEP 01051, São Paulo, SP – e a Biblioteca Teilhard de Chardin da Associação Palas Athena – Rua Leôncio de Carvalho, 99, CEP 04003, São Paulo, SP.

Uma reflexão de estudioso para um princípio de leitura: “Que tal começarmos por uma boa revisão de nós mesmos, sem pré-conceitos e no estilo positivo de quem, objetiva e diretamente, olha e procura ver com base nos fatos e na experiência? Que tal nos encararmos a nós mesmos, ao ser humano que somos, como um fenômeno?”

Embora muitos dos escritos de Teilhard tenham sido censurados pela então bem mais conservadora Igreja Católica durante seu tempo de vida, por causa de seus pontos de vista sobre o pecado original, o trabalho de Teilhard foi reconhecido postumamente por esta. Teólogos proeminentes e líderes da Igreja, incluindo os papas João Paulo II e Bento XVI, escreveram positivamente a respeito das ideias de Chardin e seus ensinamentos teológicos foram citados pelo Papa Francisco na encíclica de 2015, “Laudato si”.

Lendo O Meio Divino de Chardin, percebe-se sua notável intuição. Quanto maior for o ser humano, mais a humanidade será unida, consciente e mestra de sua força; igualmente, quanto mais a criação for bela, mais perfeita será a adoração, mais o Cristo encontrará, para as extensões místicas, um corpo digno de eterna iluminação.

Teilhard de Chardin faleceu em 10 de abril de 1955, num domingo de Páscoa, em Nova York, aos 73 anos. No campo científico deixou uma obra vasta: cerca de quatrocentos trabalhos em vinte revistas científicas.

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