XICO COM X, BIZERRA COM I

Um passarinho pousou na minha janela e me presentou com sua música tão bonita. Ofertou-me seu canto, com a maior das ternuras, com todo o carinho, sem nada em troca. Aproveitou e fez também aquela sujeirinha típica que todos os animais fazem, na hora do ‘descomer’. Nada que embotasse a beleza do seu cantar ou que arranhasse a suavidade de sua presença. Diante do belo, cometi a heresia de pensar em prendê-lo numa gaiola, impedindo-o da liberdade do voo e ‘privatizando’ seu belo canto, sua ‘divina zoada’… Desisti a tempo de evitar o cometimento de crime tão hediondo. A solução mais inteligente foi mesmo deixá-lo livre, evidenciando a importância da liberdade! Assim procedendo, ele voltará outro dia com sonhos livres e cantos de amor para embalar os meus sonhos, também de amor, também de paz. O egoísmo de trancá-lo em uma gaiola rapidamente esvaiu-se ante a constatação de que todos merecem ouvir tão belo cantar. Por que deveria eu ter o privilégio da audição exclusiva? Quanto egoísmo! Aproveitei e deixei todas as gaiolas de minha alma de portas abertas, ainda que em nenhuma delas houvesse algum passarinho sem poder voar. Nelas haviam apenas sonhos, alimentados sempre pelo belo cantar dos passarinhos. Que bom se um passarinho pousasse na janela de todos os homens.

* * *

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5 pensou em “UM PASSARINHO NA MINHA JANELA

  1. A razão da violência e – conseqüentemente – da pior delas, a GUERRA, é que o Putin, os seus admiradores e seus defensores têm um problema insolúvel:

    É que – permanentemente!!! – estão se dando conta de que o “passarinho” deles não mais “gorjeia” ou, até, nunca “gorjeou” ou “gorjeará”.

    Então, movidos pela inveja + o poder – a mãe e o pai de todos os crimes – inventam até uma guerra para que (os cujos “passarinhos gorjeiam”), seja de um lado, seja do outro, sejam inutilizados e/ou eliminados, no maior número possível.

    E assim foi, é e será – desde que o mundo é mundo:

    Atrás de cada violência, da menor à maior, sempre haverá um impotente sexualmente, um (como se diz aqui pelos meus lados) um “BROCHA”, um “PASSARINHO-MORTO”
    atuando!!!

  2. Rapaz, o Xico é um mestre imbatível em expressar nobres sentimentos humanos – claro, para os humanos que têm nobres sentimentos.
    Lindeza de lindura.
    Abraços,

  3. Parabéns, querido poeta Xico Bizerra, pelo belo texto, um verdadeiro poema em prosa!
    Você tem o privilégio de ser visitado pelos pássaros, sem cometer o crime de aprisioná-los.

    Para você e Dulce, o belo poema de Olavo Bilac, Pássaro Cativo, que minha mãe sabia de cor e adorava recitar.

    O PÁSSARO CATIVO…

    Armas, num galho de árvore, o alçapão
    E, em breve, uma avezinha descuidada,
    Batendo as asas cai na escravidão.
    Dás-lhe então, por esplêndida morada,
    Gaiola dourada;
    .
    Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos e tudo.
    Por que é que, tendo tudo, há de ficar
    O passarinho mudo,
    Arrepiado e triste sem cantar?
    É que, criança, os pássaros não falam..
    Só gorjeando a sua dor exalam,
    Sem que os homens os possam entender;
    Se os pássaros falassem,
    Talvez os teus ouvidos escutassem
    Este cativo pássaro dizer:
    .
    “Não quero o teu alpiste!
    Gosto mais do alimento que procuro
    Na mata livre em que voar me viste;
    Tenho água fresca num recanto escuro.
    Da selva em que nasci;
    Da mata entre os verdores,
    Tenho frutos e flores
    Sem precisar de ti!
    .
    Não quero a tua esplêndida gaiola!
    Pois nenhuma riqueza me consola,
    De haver perdido aquilo que perdi…
    Prefiro o ninho humilde construído
    .
    De folhas secas, plácido, escondido.
    Solta-me ao vento e ao sol!
    Com que direito à escravidão me obrigas?
    Quero saudar as pombas do arrebol!
    Quero, ao cair da tarde,
    Entoar minhas tristíssimas cantigas!
    Por que me prendes? Solta-me, covarde!
    Deus me deu por gaiola a imensidade!
    Não me roubes a minha liberdade…
    Quero voar! Voar!
    .
    Estas cousas o pássaro diria,
    Se pudesse falar,
    E a tua alma, criança, tremeria,
    Vendo tanta aflição,
    E a tua mão tremendo lhe abriria
    A porta da prisão….

    Olavo Bilac

    Grande abraço!
    .

  4. Parabéns, estimado poeta.

    Se em todas as janelas desses monstros que provocam a guerra pousasse um pássaro, a Paz lhe tocaria o coração, e a mente ficava aberta à razão e não à estupidez dos conflitos entre irmãos.

    Parabéns por nos trazer a reflexão sobre a importância da paz com tanta sensibilidade, no pouso de um passarinho na janela.

    Abraçaço.

  5. Meu muitíssimo obrigado, apregado em um abraço fraternal, aos queridos Triplo A (Adail Augusto Agostini), ao sempre Magno Magnovaldo, às damas Scirley e Violante, que enfeitam este JBF, e ao cumpade Ciço, generoso como costuma ser. À Violante, agradecimento especial pelo poema de Bilac. Gratidão a todos. Feliz por ter merecido seus comentários.

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