Editorial Gazeta do Povo
O recém-eleito papa Leão XIV, cardeal Robert Francis Prevost, dos EUA, dirigindo-se aos fiéis da varanda central da Basílica de São Pedro
Nesta quinta-feira (8), a Igreja Católica e o mundo assistiram à escolha de um novo pontífice: Robert Francis Prevost, cardeal nascido em Chicago, foi eleito papa no segundo dia do conclave que se seguiu ao falecimento de Francisco, ocorrido em 21 de abril. Assumindo o nome de Leão XIV, o novo papa inicia seu pontificado diante de uma conjuntura desafiadora, tanto para a Igreja Católica quanto para o mundo, em que a firmeza doutrinária, a sensibilidade pastoral e a capacidade de diálogo serão igualmente indispensáveis.
Mesmo que sua função se limitasse à de líder religioso o papa já teria uma tarefa gigantesca sobre os ombros. A Igreja Católica é uma instituição milenar, cujos valores universais moldaram as bases de toda a civilização ocidental e que hoje reúne 1,4 bilhão de fiéis espalhados por todos os continentes. Caberá ao papa definir as prioridades e diretrizes pastorais – por meio de encíclicas e exortações apostólicas – que moldarão a vida interna da Igreja e influenciarão a formação da consciência dos fiéis em todo o mundo.
Dentro desse horizonte, entre os desafios internos que o novo papa terá de lidar está a queda no número de fiéis em muitos países ocidentais, enquanto há crescimento acelerado do Catolicismo em regiões como África e Ásia, algo ainda novo, e que traz a necessidade de se revigorar a dinâmica missionária da Igreja e abertura ao diálogo. Significativo que o lema de Leão XIV como bispo seja “In illo uno unum” (“Em Cristo, somos um”), expressão clara da espiritualidade agostiniana, que valoriza a unidade em Cristo como princípio fundamental. Ainda que possa haver discordâncias menores dentro da Igreja, isso não é sinal de ruptura ou desunião e o papa poderá ter um papel importante na reafirmação da unidade da Igreja.
Mas o alcance de um papa ultrapassa as fronteiras do Vaticano e da própria fé católica. Um papa é também uma figura política de peso. Além de liderar a Igreja, o papa é o chefe do Estado do Vaticano, que mantém relações diplomáticas com 184 países e possui assento permanente na Organização das Nações Unidas (ONU).
Embora o poder temporal do papa possa ter diminuído ao longo dos séculos, sua autoridade moral e social só cresceu por conta da riqueza doutrinária e dos valores profundamente humanos e universais defendidos pela Igreja e com Leão XIV não será diferente. A partir de agora, tudo o que for dito ou produzido pelo novo papa será uma repercussão gigantesca, não apenas dentro do Catolicismo.
No cenário diplomático, os pontífices costumam atuar como mediadores e defensores da paz. João Paulo II teve papel crucial na queda do comunismo. Francisco buscou exercer sua influência em conflitos como a guerra entre Rússia e Ucrânia e as tensões em Gaza. E o novo papa deve manter a tradição. Ao final de sua primeira fala como papa, Leão XIV rezou por sua missão, pela Igreja e foi enfático ao pedir paz no mundo. Em tempos de ebulição global, esse gesto é mais do que simbólico. O mundo precisa de líderes capazes de indicar caminhos para o fim dos conflitos e a construção da paz. Que Leão XIV, com o apoio da oração de milhões de fiéis, possa construir um legado de paz dentro e fora da Igreja.