CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Sr. Shin Lau e família

Desde menino que ouço mamãe dizer uma frase singular, quando achava que havia obtido uma solução satisfatória para algum problema ou cujo resultado financeiro lhe fosse favorável:

“Foi um negócio da China!”

Na Boa Vista, bairro do Recife onde vivi períodos da primeira infância, ficou em minha lembrança peculiaridades sobre procedimentos comerciais de uma família asiática.

Algumas vezes que fui com a “Secretária” Minervina à lavandaria de propriedade de uma família chinesa, situada na Rua Barão de São Borja, geralmente me chamava a atenção certos procedimentos deles, que para mim eram muito diferentes dos nossos.

Ali trabalhavam marido, mulher e filhas, geralmente todos calçando tamancos e vestindo roupas costuradas à mão, utilizando um tecido branco chamado “Madapolão”. Vestimentas bastante rudimentares.

Eram conceituados. Tanto no trato com os brasileiros – mesmos com as dificuldades vernaculares – quanto na eficiência dos serviços.

Lembro-me que no final da tarde o chinês aparecia montado numa bicicleta para entregar as roupas lavadas e engomadas, com cabides pendurados numa “arara” fixada no bagageiro.

Não se questionava em nenhuma das conversas que eu ouvia o motivo de sua transferência de um país tão longínquo e de costumes tão diferentes. E muito menos suas ideias políticas, como atualmente. Sentíamo-nos irmãos.

O fato é que os preços cobrados pela “Lavandaria do China” – conforme identificávamos seu estabelecimento – eram mais convidativos e ainda recebíamos à domicílio.

Adulto, procurei saber a causa do “ditado”, e utilizando notas do prof. Por Rainer Gonçalves de Sousa, que é Mestre em História, aqui retransmito, porque data da Antiguidade.

A expressão “Negócio da China” tem origem no contato comercial entre Ocidente e Oriente. Desde anos remotos, as atividades comerciais tiveram grande importância no desenvolvimento de determinadas civilizações e promovia rico intercâmbio entre culturas distantes.

Nos fins da Idade Média, a consolidação da burguesia europeia realizou a integração entre Ocidente e Oriente por meio de longas rotas marítimas que buscavam as cobiçadas especiarias oriundas desta região.

Até que a expansão marítimo-comercial ocorresse no início do período Moderno, a busca pelas sedas, temperos, ervas, óleos e perfumes orientais era o grande “negócio da China” para os mercadores daquela época.

Ainda hoje, a expressão “negócio da China” é usualmente utilizada quando alguém obtém algum tipo de acordo bastante vantajoso.

De fato, a concepção desse termo remonta o grande interesse que os comerciantes da Europa tinham em buscar as mercadorias oferecidas pelos chineses e outros povos asiáticos.

Chegando ao século XIX, essa expressão também ganhou força no momento em que a economia capitalista vivia um período de visível expansão. Nessa época, os britânicos cobiçavam a exploração do vasto mercado consumidor chinês, assim como o uso de suas matérias-primas e a grandiosa força de trabalho disponível.

Mamãe – nos anos 40 – costumava comentava que entregar roupas para lavar e engomar na lavandaria do sr. Chin Lau, era “um negócio da China”.

Um comentário em “UM NEGÓCIO DA CHINA

  1. Parabéns, preclaro escritor Carlos Eduardo, amigo e colega do vetusto Banco do Brasil, por mais uma excelente crônica, como sói ocorrer com seus escritos.
    Gostei da descoberta da origem do termo “Um negócio da China”.
    Posso enquadrar sua crônica, tão bem escrita, como “Um negócio da China”, posto que exitosa.
    Abraços desde Fortaleza,
    Boaventura Bonfim.

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