CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Este colunista entrevistando o Ministro da Agricultura, Romero Cabral da Costa

Jânio da Silva Quadros foi eleito Presidente do Brasil em 3 de outubro de 1960 e tomou posse em janeiro de 1961. Nos primeiros dias, após sair-se vencedor, começaram a surgir as confabulações. Corria o boato de que o usineiro Marcelo Cabral da Costa seria o Ministro da Agricultura.

Diante disso, novo ainda no quadro de repórter do Diário de Pernambuco, procurei me adiantar conseguindo uma entrevista com ele, pessoa que conhecia de perto, a fim de que meu jornal desse o “furo”.

Todavia, tive que assumir o compromisso de que somente publicaríamos a matéria quando ele nos telefonasse.

Mas, em confiança, concedeu a entrevista e produzi a reportagem uma semana antes, enfocando o tema da algaroba, a planta milagrosa que dotaria o Nordeste de certa amplitude por vários motivos.

Acertei, então, com Antônio Camelo da Costa, editor-chefe do jornal, que minha reportagem somente seria publicada juntamente com a confirmação da notícia de nomeação do engenheiro-agrônomo, o que de fato aconteceu.

Nessa época as notícias expedidas pelas empresas especializadas – Associated Press, France Press e a Meridional – nos chegavam através e um aparelho chamado teletipo, que começavam a funcionar a partir de altas horas da noite. Parecia um fantasma. E dessa forma a notícia nos chegou antes do telefonema, o que aconteceu no dia seguinte.

Decorridos mais de 50 anos, vale a pena dar conhecimento aos leitores atuais sobre minha matéria, que fez parte de um “furo” de certa magnitude, porque a manchete da nomeação foi publicada já com a entrevista do ministro, em primeira mão.

PERNAMBUCANO ROMERO COSTA É O NOVO MINISTRO DA AGRICULTURA.

O engenheiro-agrônomo Romero Cabral da Costa, Diretor-presidente da Usina Pumaty S.A., novo Ministro da Agricultura, nos confirmou que uma das primeiras ações de sua pasta será iniciar um vasto plano de Redenção do Nordeste através do plantio de algaroba, sobremodo às margens das rodovias.

Entusiasta dessa solução, despertada pelos trabalhos de Pimentel Gomes e Guilherme de Azevedo, conhecidos agrônomos norte-rio-grandenses, está certo de que durante os cinco anos do Governo Jânio Quadros a situação de penúria em que vivemos, será outra.

A “Propolis Julisflora” – nome científico da planta – teve sua origem nas margens do Mediterrâneo, cuja excelência está não só nas qualidades alimentares, pois oferece 13% de proteínas, 45% de hidrato de carbono, mas sobretudo por sua alta capacidade de adaptação ao solo nordestino.

Tem como característica resistir aos mais hostis solos como ao mais árido clima e vegetando facilmente dentre os ricos aluviões aos tabuleiros pedregosos do sertão às dunas litorâneas.

São seus frutos a parte principal utilizada na alimentação de diversas espécies domésticas – bovinos, equinos, suínos, ovinos e caprinos – e sua folhagem é bem aproveitada.

O grande valor como forrageira está no fato de permanecer sempre verde e em produção, mesmo nos meses mais secos do ano. É, antes de tudo, a árvore eleita para as regiões que sofrem os rigores de estios prolongados.

Completando nossa entrevista, respondeu-nos Romero Cabral da Costa:

“É nosso intento, através da implantação nas zonas do agreste e do sertão nordestino uma leguminosa e forrageira que pelos seus altos teores de proteína e hidrato de carbono, contenha em seus frutos uma solução em termos de mantença da população bovina.

Essa planta que resiste com dificuldades nessas áreas desertas possibilitará o reflorestamento e finalmente por sua condição de propriedades melíferas.”

O tempo reduzido em que foi Ministro da Agricultura – apenas cinco meses – Romero conseguiu iniciar seu ‘Plano da Algaroba”, plantando várias espécies ao longo das margens da principal rodovia de Pernambuco – a BR 232 – onde a paisagem ficou mais alegre e menos agreste.

Na madrugada em que o teletipo confirmou a nomeação do ministro pernambucano, a notícia deu título à nossa matéria e hoje recordo com grande satisfação que dei um “furo” com a notícia seguida da entrevista com o ministro. Um “furo” de verdade.

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