Meu neto do meio, Vinicius, 3 aninhos, surpreendeu ao revelar ao pai três dos seus grandes desejos: ter um cachorro para levá-lo à escola, passear de foguete e pisar na neve. Inobstante não haja notícias de cachorros, por mais doces que sejam, frequentando salas de aula, tampouco de agências de viagem promovendo passeios em foguetes e muito menos da existência de chuva de neve em tórridas terras nordestinas, encantou-me, sobremaneira, a qualidade surreal dos sonhos do menino Vina, que estuda bateria aos sábados, pela manhã. Diferentemente dos homens com cabelo na cara, que apenas sonham sonhos materiais (riqueza, aquisição de bens, sucesso na vida social e empresarial), as crianças pensam diferente e sonham sonhos revestidos de pureza, tal qual são suas almas.
O GOLEIRO NA HORA DO GOL
O mais velho deles, Bernardo, solitário sob as traves do PSG aqui em Recife, resolveu ser goleiro. Para o mês estará viajando para Porto Alegre participar de um torneio interestadual defendendo as cores do ex-time de Messi. Teimo em ir aos treinos vê-lo defender bolas totalmente indefensáveis aos meus olhos. Mais angustiado que o goleiro a que se referia Belchior, fica o avô do goleiro na hora do gol.
O LEONARDO QUE NÃO QUER SER LÉO
O caçula, Leonardo (detesta ser chamado de Léo e insiste em ter 1 ano, quando na verdade tem 2), pelo jeito vai ser cantor. Vive cantarolando, é afinado (na medida do possível para uma criança de sua idade). Sabendo das dificuldades dos artistas de canto por essas bandas, já fico a temer por seu futuro artístico. Que não abandone a escola é o que posso aconselhar. O consolo é saber que seu repertório atual é muito bom, Luiz Gonzaga incluído. Por enquanto, pelo menos não há o que temer quanto ao seu enveredar pelos cantos dos sertanejos sem sertão, pagodeiros impostores ou forrozeiros de plástico.
A UTOPIA DOS NETOS
E a gente, já graúdo na vida e não mais desejoso de passeios intergalácticos, ou de criar bonecos de neve ou, ainda, de descobrir escolas que aceitem cachorros como alunos, seguimos a vida admirando e sonhando junto as utopias dos netos. Mas a verdade é que nada é mais saboroso que ser avô de três crianças tão diferentes nos sonhos e tão iguais na benquerença do avô.
Grande crônica, mestre Xico. E sábia. Por falar bem dos netos. Assino em baixo, por conta dos meus. Abraços de um progresso devoto seu, José Paulo.
Xico, meu bom Xico, passeei por cada linha de sua coluna. Cada história me levando a lembrar dos meus cinco netos; três que já conheço e duas que nunca cheirei o cangote.
Dessas duas uma é Estela, nascida em Portugal e que esse avô só pode ver através das telas de celular. Às vésperas de fazer um ano, ainda não sonha além de se arrastar até o fogão e tentar pegar nos pitocos que ligam as bocas. A outra é Marina, ainda na barriga de minha nora. Mês que vem, Deus querendo, ela virá para o meu colo.
Dos três que já me ocupam, Luísa, Bento e Levi, todo dia é uma novidade.
Luísa nasceu uma lady, Bento veio cientista e Levi…
Bom, Levi por enquanto só quer ser namorador.
Meus caros Tri-Acadêmico e igualmente imortal Dr Zé Paulo e o Acaryense com nome de Nazareno, Jesus De Ritinha, sobrinho de tio Lolô: coisa boa é ter neto pra ter histórias pra contar e cangotes pra cheirar. Abraço aos dois.