CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Os gêmeos Pedro e Paulo sempre foram unidos. A viúva Dona Esperança criou-os com dificuldade. Conseguiu dar educação em casa e na escola. Ainda jovens, eles passaram no vestibular da Faculdade de Engenharia.

Pedro apaixonou-se por uma colega de turma, Bethânia Cardoso, inteligente, gostava de estudar e da profissão de engenheira, alegre, frequentava as mais badaladas festas nos clubes e casas de família. Gostava de praticar esportes, de namorar como todas as jovens. Bethânia era divina em sua alegria, fortaleza e sensualidade.

Faziam trabalhos de Faculdade juntos, davam-se bem um com outro, Bethânia também apaixonada, iniciaram o namoro. Formaram-se no tempo do “Milagre Econômico”, havia empregos para todos engenheiros formados naquela época. Porém os gêmeos tinham maiores ambições, montaram uma construtora, tendo Bethânia como sócia.

A empresa prosperou graças a trabalho dos gêmeos e principalmente o equilíbrio e controle administrativo de Bethânia. Tornou-se o cérebro da empresa. Dizia sempre que a empresa e os sócios não deveriam gastar mais que arrecadavam. O tempo passou, ficaram bem de vida à custa de muito trabalho. Pedro e Bethânia tiveram dois filhos homens, hoje independentes. Um mora em Tocantins o outro no Canadá

Houve uma tragédia na família, o irmão Paulo morreu em um desastre de automóvel numa viagem. A viúva, Aline, por lei, ficou como sócia da construtora em substituição ao marido. A nova sócia, tinha apenas o primeiro grau e era uma tremenda preguiçosa. Deram-lhe um serviço compatível com sua capacidade, mas no final do mês recebia dividendos de sócio. Seu único filho gostava mesmo de administrar a fazenda do avô materno, moravam num apartamento na praia.

A empresa continuou com bom empenho devido a inteligência e praticidade de Bethânia, era a boa timoneira.

Certa noite o casal comemorava ano novo na casa de amigos na Barra de São Miguel, quando Bethânia percebeu alguma coisa no ar. Pedro falava no celular demoradamente com alguém, coisa inusitada em seu marido. Ela chegou-se perto, ouviu ainda quando se despediu: “Um beijo, lhe vejo amanhã”.

Desconfiada, perguntou ao marido com quem falava. Ele tapeou respondendo que era com o João Peixoto, médico amigo que mora em São Paulo.

No outro dia, repercutia ainda no ouvido de Bethânia a última fala de seu marido: “Um beijo, lhe vejo amanhã”. O primeiro dia do ano estava marcado para um almoço na casa de Aline. Como Pedro poderia ver essa suposta namorada se ele estaria o dia todo na casa da cunhada? Seria alguma convidada?

No almoço estavam alguns casais conhecidos, muitos amigos, algumas jovens bonitas. Bethânia, muito perspicaz e fria ficou analisando as mulheres que estavam na festa como se fosse uma detetive.

Ela não é mulher de se iludir. Ouviu nitidamente a despedida do marido no celular. Quando ele disse estar conversando com o João Peixoto, aumentou, consolidou a desconfiança.

Já era tarde e nenhuma das mulheres que ali estava deu alguma bandeira, um olhar, ou dirigiu-se a Pedro com atenção especial.

Em certo momento, com uma dor no coração, Bethânia matou a charada. Percebeu sua cunhada Aline, a anfitriã, servir uma dose de uísque e apertar o braço de Pedro, olhando em seus olhos. Foi uma intensa pancada. Uma dor incontida de raiva se deu no coração daquela mulher, tornou-se fera. Fez lembrar sua inquebrantável fidelidade, apesar de várias cantadas e oportunidades que apareceram na vida. Brutal traição, logo com a viúva do irmão. A cunhada que foi acolhida, apoiada em todos os momentos de dor.

Bethânia, mulher forte, ficou o resto da festa, observando detalhes de comportamento de seu marido e de Aline. Na hora de ir embora tinha certeza, não havia qualquer dúvida. Confirmou apenas pelos gestos e olhares de ambos.

Em casa fez o marido confessar. Ele chorou. Disse que era apenas um caso passageiro, tinha sido envolvido pela fragilidade da viúva de seu irmão. Bethânia entristeceu-se mais ainda. Percebendo que o marido era um fraco.

Hoje Bethânia está solteira, dona da construtora, uma cinquentona bonita, empresária das mais respeitadas. Gosta de sair nas noitadas de fim de semana, escolhe o homem que quiser, divertida, feliz da vida com muitos amigos, só não quer compromisso, casamento. Para ela Pedro e Aline morreram, a última vez que se viram foi para assinar o divórcio e o novo contrato social da construtora, com apenas ela e os filhos como sócios.

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