Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.
Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: “Que fantasia,
Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu! …”
Calaram-se os poetas, tristemente …
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu! …
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Este poema mostra o que é a vida dos poetas.
Para alcançá-los sobe-se em uma torre feita de fumo, névoas e luar; a boemia.
Ela se pôs a conversar; dizia: quantas fantasias, alegrias, quantos sonhos.
E o que os poetas que se foram lhe disseram? Eram tudo fantasia, ilusões….
Florbela realmente falava e se juntou com eles.