Ron Paul foi candidato independente à presidência dos Estados Unidos em 1988 e disputou a indicação pelo partido republicano em 2008 e 2012, ficando em segundo lugar nas primárias em ambas as ocasiões.
Ron é médico, capitão da Força Aérea dos EUA e autor de 17 livros. Foi deputado pelo Texas quatro vezes.
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Na semana passada, o mundo escapou por pouco da provável destruição nuclear, quando o governo Biden recebeu o pedido da Ucrânia para permitir que mísseis dos EUA atingissem o interior do território russo. O presidente russo, Vladimir Putin, alertou, enquanto o pedido estava sendo considerado, que, como esses mísseis não poderiam ser lançados sem a participação ativa dos militares dos EUA e da OTAN, a Rússia se consideraria em estado de guerra com a OTAN e os EUA caso eles fossem lançados. Foi uma “crise dos mísseis cubanos” em grande escala.
Felizmente, Washington não deu permissão para atingir o interior da Rússia, mas ao longo desta guerra, muitas vezes o uso de um sistema de armas foi primeiramente negado e depois concedido aos representantes de Washington em Kiev. Não devemos deixar de nos preocupar, mesmo que a guerra nuclear tenha sido temporariamente evitada.
Os ataques com mísseis dentro da Rússia fariam a Ucrânia vencer a guerra? Nem mesmo o Pentágono acha isso. O próprio secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse no início deste mês que conceder permissão à Ucrânia para lançar mísseis na Rússia não seria um “divisor de águas” na guerra de dois anos e meio.
Mesmo os “divisores de águas” mudaram pouco nesta guerra. Quantas vezes a grande mídia pró-guerra nos disse que um sistema de armas seria um “divisor de águas” na Ucrânia? Lembra dos mísseis Javelin? Tanques Leopard? HIMARS? E como nenhum deles conseguiu virar a maré a favor da Ucrânia, os neoconservadores e seus amigos na mídia só exigem mais.
O fato é que a Rússia está vencendo a guerra apesar de centenas de bilhões de dólares e dos melhores sistemas de armas dos EUA e dos países da OTAN. Cada nova remessa de armas cada vez mais sofisticadas não produz vitórias no campo de batalha para a Ucrânia. Só produz mais soldados ucranianos mortos e mais lucros para os fabricantes de armas.
Até mesmo a grande mídia – que apoiou solidamente a guerra na Ucrânia – começou a relatar as enormes perdas e a situação desesperadora da Ucrânia. No entanto, à medida que mais e mais começam a acordar sobre a desastrosa guerra por procuração, Washington só conhece uma direção quando se trata de guerra: para frente. Há pouco mais de uma semana, o Pentágono anunciou outro pacote de armas de US$ 250 milhões para a Ucrânia. Ninguém acredita que isso vá reverter os ganhos constantes obtidos pela Rússia no campo de batalha, mas gerará mais lucros para os fabricantes de armas dos EUA, que são a verdadeira força por trás da política externa americana.
A improvável dupla Robert F. Kennedy Jr. e Donald Trump Jr. disse isso melhor em um editorial recente no The Hill: “Não podemos chegar mais perto do limite do que isso. E para quê? Para ‘enfraquecer a Rússia’? Para controlar os minerais da Ucrânia? Nenhum interesse americano vital está em jogo. Arriscar um conflito nuclear por causa da fantasia neoconservadora de ‘domínio total’ é loucura.”
Eles estão certos, é uma loucura arriscar o futuro do país e de nossos filhos e netos por guerras que não têm nada a ver conosco e não servem a nenhum interesse nacional dos Estados Unidos. Isso certamente é verdade para a guerra na Ucrânia e também para as guerras que os EUA estão apoiando no Oriente Médio. Quando a loucura vai acabar? Quando o povo se manifestar e exigir uma mudança.
Ron Paul comenta a guerra da Ucrânia como coisa de neoconservadores que estão a serviço da gigante indústria bélica dos EUA que, segundo ele não têm nada a ver com a guerra em curso. Seu texto é tendencioso e coloca as coisas fora da real perspectiva.
Eu tenho questionamentos; primeiro, quem são os neoconservadores? Biden?
Trump é um conservador e já se manifestou várias vezes que, como Presidente dos EUA e a força militar que o país dispõe, não deixaria a Rússia invadir a Ucrânia, que foi o estopim da guerra. O que a Ucrânia faz é se defender. Caso a Rússia tivesse conseguido seu intento, a segurança da Europa estaria comprometida.
No Oriente Médio ocorre o mesmo; grupos terroristas patrocinados pelo Irã atacam Israel com objetivo de destruição, este se defende e é criticado por isso.
Bem se vê porque Ron Paul não foi para frente.
Eu também não gosto do exagero de rótulos que tomou conta do debate em todas as áreas: é neoconservador pra cá, neoliberal pra lá, é fascista, comunista, socialista, machista, ciclista, um monte de palavras sem definição exata que só servem como xingamento.
Por outro lado, a turma a que o Ron se refere, sejam neoconservadores ou qualquer outro nome, não é tão indefinida assim: é a turma do também chamado “complexo industrial-militar”, grupo que reúne os fabricantes de armamento, os militares do Pentágono e os políticos que atuam nessa área onde a promiscuidade é grande: o general que gasta bilhões em armamento hoje, amanhã vira consultor da indústria que os fabricou. O deputado de hoje é o CEO de amanhã, e assim por diante. Desde a 2ªGM, esse grupo nunca deixou de providenciar periodicamente guerras estrangeiras que servem para “desovar” os estoques de armas e abrir espaço para novas encomendas, sempre em nome da “democracia” e da “liberdade”, naturalmente.
Outra coisa: a Rússia invadir a Ucrânia não foi “o estopim da guerra”. Pelo contrário, foi a consequência de uma série de ações que começaram lá em 2014 quando o presidente Yanukovich foi deposto em algo que alguns chamam de golpe e outros chamam de “Revolução da Dignidade”. Desde então, a Ucrânia passou a descumprir os acordos feitos na época da dissolução da URSS, culminando na proposta de se unir à OTAN, algo que havia dito explicitamente que não faria.
E o que é a OTAN? É uma organização militar cujo único propósito era se opor ao Pacto de Varsóvia. O Pacto de Varsóvia não existe mais, então a OTAN também não precisaria existir. Quando a Ucrânia diz que quer integrar a OTAN, será que a intenção é só participar dos churrascos de domingo? A Rússia deveria aceitar calada a presença de uma organização inimiga em sua vizinhança? Ron Paul lembrou bem: é a Crise dos Mísseis Cubanos novamente.
Naturalmente, quem simpatiza ideologicamente com esses que o Ron chama de neoconservadores (talvez sejam neoconservadores também) pode fingir que o mundo começou em fevereiro de 2022 e que a Rússia, do nada, resolveu invadir a Ucrânia só porque não tinha nada para fazer ou só porque o Putin é igual aos bruxos malvados dos contos de fada, é malvado porque o autor da história definiu que ele é malvado e ponto. Pode também fingir que os países com quem não simpatiza gostam de atacar os outros sem motivo nenhum, e pode também fingir que os países com quem simpatiza são bonzinhos e só entram na guerra para “se defender”. Alguns fingem com tanta convicção que, como dizia Fernando Pessoa, chegam a acreditar no fingimento.
Esqueci um detalhe: quando o Trump diz que “não deixaria a Rússia invadir a Ucrânia”, ele explicou COMO faria isso? Porque prometer que faria coisas é algo que todo político faz da hora que acorda até a hora em que vai dormir.
Enquanto isso, o dinheiro dos contribuintes continua enchendo os cofres da Lockheed, da General Dynamics e da Northrop:
https://www.infomoney.com.br/mundo/biden-anuncia-mais-us-8-bilhoes-em-ajuda-militar-para-ucrania/
Eisenhower, general do dia D, foi presidente dos EUA por duas vezes. No fim do 2º mandato definiu o que viria a ser chamado de Deep State com a seguinte frase;
“o novo complexo militar-industrial (criado para a 2ª GM) poderia enfraquecer ou destruir as instituições e princípios que estavam destinados constitucionalmente a proteger.”
Esta indústria, ligada À DARPA, junto da sopa de letrinhas da burocracia americana (CIA, NSA, FBI) mantêm a tensão mundial alta, com conflitos em alta, para venderem e desenvolverem seus produtos.
Com relação ao conflito Ucrânia – Rússia, este vem desde antes do comunismo. Não é simples de analisar em poucas palavras.
O que eu entendo é que a Ucrânia é um país soberano e não é um satélite da Rússia.