PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda
na casa velha…
tão velha…
quem fez aquela casa foi seu bisavô…
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
Mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha..a.
A moça não disse nada;
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro,
queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade…

Agora
o quarto onde ela mora
e o quarto mais alegre da fazenda.
Tão clara que, ao meio-dia, aparece uma renda
de arabescos de sol nos ladrilhos vermelhos
que, apesar de tão velhos,
só agora conhecem a luz do dia…

A lua branca e fria
também se mete às vezes pelo claro
da telha milagrosa…
ou alguma estrelinha audaciosa
carateia no espelho onde a moça se penteia…
Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta, fria,
sem um luar, sem um clarão…
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida?
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

Rachel de Queiroz, Fortaleza-CE (1910-2003)

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