Essa expressão foi formulada pelo crítico Martin Esslin, naquela fase do pós-Segunda Guerra Mundial e tinha como característica retratar a condição humana desolada pela guerra e sem rumo, sem sentido. Através de peças de nomes de peso como Samuel Beckett que com a obra Esperando Godot traduziu a sensação de uma espera infinda por um evento incerto. É como alguns jogadores das loterias, jogam, jogam, jogam e nunca serão premiados. O Teatro do Absurdo reunia alguns atributos como: falta de sentido, incomunicabilidade, estruturas ilógicas, incoerência e o tragicômico.
O Brasil atual é tudo isso ou melhor dizendo, o Brasil atual é um modelo de absurdo que, vez por outra, parece teatro, onde as peças apresentadas não passam de uma comédia de mal gosto. A falta de sentido do que se faz aqui não é uma obra de ficção. Pessoas esperam por quase 60 dias para atendimento pelo SUS. Pessoas descontaram dinheiro das aposentadorias com o consentimento, ou inércia, do governo. Pessoas não podem mais se expressar livremente, pois a definição do que seria violação à liberdade de expressão, deixou de ser mensurada pelos crimes de injúria, calúnia e difamação, para ser assunto privativo de um juiz, que de fato, nem é juiz.
Os fatores ilógicos que regem o país são incontáveis. Não há como se explicar, por exemplo, como pessoas de largo conhecimento técnico e científico não enxergam as mazelas de um presidente medíocre, corrupto, mentiroso e absolutamente desastroso. Suas palavras possem o efeito direto de provocar reações adversas, até mesmo em aliados, mas isso continua sendo perdoável e considerando apenas um “deslize”. São inúmeros os casos e se formos considerar cada dia do ano, a gente teria uma coletânea de absurdos fora do comum.
Ninguém deu uma palavra quando ele disse que “se o cara quer bater na mulher, vá bater noutro lugar, mas não aqui”. Para as feministas, apenas um deslize, para a grande mídia, apenas uma posição fora do contexto. Foi tudo muito igual quando o filho dele bateu na mulher e bradou que o pai dominava a justiça brasileira ou quando disse o cara bate na mulher quanto o time perde, mas isso é entendível quando o cara é corintiano. Não me lembro de nenhuma reação quando ele criticou, publicamente, a escolha de um senhor negro e desdentado numa peça publicitária do governo.
A mais recente baboseira foi dita essa semana: os traficantes são vítimas dos usuários. Não faz muito tempo, um ator global que fazia o papel de “Cabeção” em “Malhação” ameaçou a pai, exigindo mil reais para comprar drogas. “Pai! Eu vou te matar!”, era a expressão. Quando um usuário de drogas não paga pelo consumo, a cobrança vem em forma de chumbo. Ele é morto, simplesmente.
Existe, de fato, um problema social muito grande. A Cracolândia é um exemplo vivo disso. A praça Maciel Pinheiro, no centro do Recife, é uma sucursal da Cracolândia paulista. Diuturnamente, homens, mulheres, adolescentes se entregam ao consumo de drogas. Pode-se até argumentar: “entrara nessa porque quiseram!” e pode até ser, no entanto, incorreremos no risco de fazer um julgamento de valor.
A relação traficante-usuário, pode não ser uma condição necessária e suficiente – como a gente diz em Matemática – ou seja, talvez não seja uma assertiva como “existe traficante se, e somente, se, existir usuário”. O usuário pode existir sem o traficante, mas este não sobrevive sem ter a quem vender. O traficante exerce um domínio natural sobre o usuário. Basta ver a quantidade de garotas que se viciam, ganhando drogas em troca de sexo. Num episódio recente da morte do ex-chefe da polícia paulista, uma jovem foi presa por participação no crime. Ela é uma conhecida viciada em drogas.
A parte ilógica de tudo isso está associada com o fato desse presidente continuar tendo apoio de diversos segmentos sociais. É para não acreditar e para se assustar quando se divulga que o interesse dele é concorrer ao quarto mandato – aqui já se trata de pura vaidade – e os institutos de pesquisas anunciarem que, num eventual segundo turno, ele seria eleito.
O Brasil está quebrando diante do risco da elevação da dívida pública, não apenas o quanto ela representa do PIB, mas a velocidade com que ela cresce. O problema é que as receitas não crescem à mesma velocidade e cedo ou tarde isso vai implodir.
Como entender que as estatais acumulam déficit de R$ 9 bilhões? Como entender que os Correios necessitam, no curto prazo, de R$ 20 bilhões para fechar o ano? Como entender políticos corruptos reeleitos? Como entender que um cara como Dino, que lascou o Maranhão foi eleito senador e hoje é um dos homens mais poderosos do Brasil? Como entender que há 20 anos o governo mantém pessoas dependentes do programa bolsa família? Fazendo uma analogia: o governo é traficante e o beneficiário do programa é o usuário. Se o usuário não receber a droga ele ameaça o traficante, não votando. Assim, faz todo sentido!
Meu caro Assuero, parabéns, como sempre ótimo texto. Infelizmente com esses país tocado a base de não sei quantas bolsas, temperado com uma maioria semi-analfabeta politicamente falando, só Deus na causa.