Um dos lemas mais comuns e exaustivamente repetidos em diversas situações nas quais uma pessoa se coloca como a única capaz de conduzir determinadas soluções é: “o cemitério está cheio de insubstituíveis”. Nada mais objetivo, nada mais simples e direto. Não aceita quem não quer, mas uma passada rápida no passado vai trazer constatações irrefutáveis. Eu lembro de uma complô armado para matar Idi Amim Dadá, ditador de Uganda. Diante dos “conspiradores” ele chegou a vociferar: “vocês não sabem que EU escolho o dia de minha morte?”.
Existe uma cobrança, natural, muito grande sobre os sucessores. Algumas vezes o compromisso é manter a qualidade de um trabalho que estava sendo bem feito; outra, é refazer tudo que estava sendo feito com uma guinada de 180 e convencer as pessoas mediante a credibilidade dos resultados. As cobranças sempre ocorrerão, as comparações, idem. Há muitos anos, a rede globo (minúsculo mesmo) apresentava nas manhãs do domingo o programa “Som Brasil” comandado por Rolando Boldrini e quando ele saiu, Lima Duarte assumiu e muita gente falava que Boldrini era melhor, apesar de Lima fazer um bom trabalho. Na verdade, Lima Duarte apresentou o programa antes de Boldrini.
Isso se espalha em vários outros ambientes. Um cantor chamado Luiz Américo, lá nos idos de 1974 gravou uma música chamada “Camisa 10” (torcer para Peninha ler esse texto e nos brindar com um vídeo dessa música) na qual ele perguntava a Zagalo, então técnico da seleção brasileira, quem iria no lugar de Pelé. “10 é a camisa dele, quem é que vai no lugar dele?”. Zico honrou magistralmente essa substituição, outros nem tanto. Messi e Maradona guardam esse mesma proporção, mas quem virá depois de Messi?
Na política a coisa não é diferente. A cada quatro anos nós vamos às urnas escolher representantes (sic!). A maioria escolhe fulano e o resto segue a vida. Infelizmente nós perdemos, em 1993, uma oportunidade extraordinária de adotar nesse país um regime parlamentarista. Pare e pense: governo não é do presidente, governo é um gabinete, mas a ideologia é a parte tenebrosa da vida política. Há um sentimento de que o país, quiçá o mundo, deve ser esquerdista.
O mapa político do Brasil, desde a chamada redemocratização, começou com um presidente que passava léguas de distância do esquerdismo. Contra Collor, Lula se apresentou e Maria Amato, então presidente da “poderosa” FIESP chegou a dizer que “se Lula fosse eleito, 800 mil empresários deixariam o Brasil”. Em tese era uma oportunidade de se mostrar algo sustentável para o país, mas as duas coisas mais marcantes do governo Collor foi o fim dos títulos “ao portador” e a abertura das importações que cutucou a indústria automobilística a fazer carros com tecnologia de ponta.
Collor saiu sob o manto da corrupção denunciada por seu irmão, Pedro Collor, e gerenciada por PC Farias, morto em circunstâncias absolutamente estranhas. Itamar preparou FHC para a presidência e ganhou de Lula, duas vezes, por se apresentar como um esquerdista mais brando do que Lula. É aí que nasce o cerne da esquerda no Brasil. O PT sabia que nunca ganharia uma eleição com a pauta partidária que defendia e Zé Dirceu começou a formatar um plano de governo, ou melhor de poder, que pudesse levar o PT à presidência. Deu no que deu. Além dos indícios de corrupção já no primeiro ano de governo, estoura o escândalo do mensalão. Mas, o objetivo aqui é falar sobre sucessão.
Lula sempre foi o único candidato de esquerda no Brasil. Não por competência, mas por sagacidade. Aniquilou Ciro Gomes, humilhando-o em diversas ocasiões. Não formou um sucessor ao longo desse tempo inteiro. Quando Lula morrer, o PT servirá de matéria prima na cremação do corpo. Seguramente, o PT ficará com alguns cargos proporcionais, mas não majoritários. O petista que voltou em Dilma, Haddad o fez com a consciência de quem o mandatário dos governos seria Lula.
De modo igual, com Bolsonaro inelegível até 2030, um cara com seus 66 anos de idade, vai disputar uma eleição com 72 anos? Pode ser. Lula o fez. Mas, dentre todos os apoiadores de Bolsonaro, quem é visto como sucessor? Tarcísio de Freitas? Talvez, mas não para 2026. A questão é a seguinte: Barroso discursou dizendo “nós derrotamos o bolsonarismo”, mas, de fato, não existe esse movimento. Existem pessoas simpatizantes a Bolsonaro e isso é muito pouco para se formar uma base estruturada. Este ano teremos eleições municipais e o PT temendo a influência do ex-presidente, articular pela sua prisão.
Não há sucessores e isso é o quem mais me angustia. Em 2022, inúmeros partidos apoiadores de Bolsonaro lançaram candidatos. Esfaleceram os votos permitindo a coesão esquerdista. Falta muito para termos competividade. Falta uma pauta que convença o trabalhador e o empresariado de que este país é possível.
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