Dizem que nos tempos do Brezhnev na extinta URSS, um grupo de pesquisadores resolveu fazer um estudo científico para confirmar se o povo russo era mesmo tão submisso como se dizia. Escolheram uma pequena cidade em uma região isolada e começaram as experiências.
A primeira foi divulgar decretos absurdos que proibiam quase tudo: andar na rua, tomar banho, plantar flores no jardim. O povo obedeceu sem reclamar. Próxima tentativa: retirar os produtos do mercado. Numa semana, sumiu a carne. Na outra, sumiu o leite, depois os legumes e verduras, até que uma hora não havia praticamente nada para comprar. O povo, quieto e resignado.
Cortaram a água da cidade inteira: nenhuma reclamação. Cortaram a eletricidade: nada. Cortaram as duas juntas: todo mundo quieto. Os chefes deram o estudo por concluído e avisaram que no fim da semana voltaria todo mundo para a universidade.
Foi aí que um dos pesquisadores resolveu fazer uma “brincadeira”: espalhou panfletos pela cidade inteira avisando que toda a população deveria comparecer à praça principal no sábado: o governo iria escolher um membro de cada família para ser enforcado. Impossível não haver alguma reação, pensou o pesquisador.
Na sexta-feira, ele foi até a prefeitura e perguntou como estavam as coisas. O funcionário respondeu que estavam atarefados, porque os telefones não paravam de tocar. Era a reação que o pesquisador queria ver. “O quê eles dizem?”, perguntou. O funcionário da prefeitura respondeu: “Todos perguntam se vai ter corda na praça ou se cada um precisa levar a sua”.
Quando eu escutei essa história, décadas atrás, era só uma piada. Nem eu nem ninguém podia imaginar que veríamos uma situação como essa acontecer na realidade, e não apenas em um vilarejo soviético mas em quase todo o mundo civilizado.
As estatísticas divulgadas sobre o tal covid-19 são uma fantasia digna de Alice no País das Maravilhas, mas para muita gente eles são verdades tão inquestionáveis quanto o mar ser salgado e o céu ser azul.
Não fica só nisso: o tal vírus é um perigo para toda a humanidade, mas esse perigo pode ser evitado obedecendo cegamente às ordens de alguns iluminados. Não importa que as ordens não façam sentido: têm que obedecer e pronto. Aglomerar no ônibus pode; receber visita em casa não. Andar de avião lotado também pode, um cotovelo encostando no outro, mas antes de embarcar precisa respeitar as fitinhas coladas no chão para “respeitar o distanciamento”.
Se aqueles pesquisadores da piada estivessem aqui, constatariam que os cidadãos exigem ser proibidos de fazer alguma coisa. Não importa muito o quê, mas a falta de proibições os deixa revoltados. Já faz tempo que a principal atividade das prefeituras é proibir coisas e dizer “não pode”, mas o pânico coletivo levou a coisa a níveis absurdos. Prefeitos e secretários que ousem proibir pouco são esculachados, chamados de irresponsáveis e genocidas.
Como resultado, as empresas precisam obedecer aos cronogramas mais absurdos, numa espécie de concurso de originalidade entre as prefeituras: para uma, de segunda a sexta pode, fim de semana não; para outras, sábado pode, mas só até as seis para uma, até as sete para outra e até as oito para uma terceira. Uma falou que os bares podem abrir, mas só com mesas do lado de dentro, na calçada não pode. Tem uma cidade em que os restaurantes podem funcionar até as dez da noite, mas só podem vender bebidas até as oito. E a cada semana muda a lista daquelas que podem funcionar e aquelas que simplesmente não podem abrir.
Também faz parte dos mandamentos divinos usar um paninho no rosto: não precisa ser algo que atenda a algum requisito técnico ou que tenha sido aprovado por alguém. Qualquer coisa serve, e dá ao portador o título de pessoa do bem, cidadão com empatia, ser humano consciente e responsável. Faz parte do ritual achar que qualquer um que discorde é um inimigo da humanidade, uma mistura de Thanos, Gêngis Khan e Josef Mengele.
Agora veio um novo passo: vacina. Algumas vozes tentam mostrar o risco de uma distribuição maciça de algo que não foi testado, e lembram que o tempo necessário para a aprovação de um medicamento novo é de vários anos. Se várias vacinas diferentes chegam ao mercado em pouco mais de seis meses, é evidente que não existe qualquer certeza sobre seus efeitos de longo prazo.
Obviamente, quem diz isso também é xingado: genocida, irresponsável, sem empatia, além de alguns epítetos criativos como terraplanista ou obscurantista. Afinal, receber vacina será como receber a cura diretamente das mãos de seu deus preferido. Se o governo afirma que a vacina é segura, quem poderá ter a audácia de contestar? Quem será o fascista, nazista, machista a duvidar de algo que o governo afirma? Não, isso não pode ser admitido. É preciso criar mecanismos para isolar da sociedade esses contestadores. Marcá-los, para que todos saibam quem são (Os reis da Espanha no século 15 e o governo da Alemanha na metade do século 20 fizeram isso com os judeus, certamente com a mais nobre das intenções).
Os pesquisadores da historinha nunca imaginariam encontrar pessoas que não apenas irão contentes e felizes à praça para ser enforcados, mas que irão voluntariamente patrulhar as ruas nas noites anteriores para denunciar os que tentarem fugir.
Marcelo, a “piada” é fantástica. Eu tenho perguntado muito sobre a vacina. Por exemplo: em Israel centenas de pessoas contraíram o vírus porque a criação de anticorpos leva de 8 a 10 dias. Perguntei ao secretário de saúde do estado qual o protocolo para esses casos? Fiquei em casa? Estão tratando alguns tratamentos que deram certo como fizeram com os remédios genéricos.
Dra.Akemi Shiba disse: o tempo médio para o desenvolvimento de uma vacina segura, ética, eficaz e com imunogenicidade duradora leva de 10 a 15 anos. A obrigatoriedade fere o princípio da livre escolha individual, consciência do indivíduo e o direito de objeção de consciência.
Caro Marcelo,
É por estas e outras que você é meu guru. FANTÁSTICO!
Parabéns mais uma vez.