FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Já eternizado, um amado irmão nosso, chamado Hélder Câmara costumava afirmar que “conversa franca faz bons amigos.” E é a partir desse princípio saudável e com muita crença no futuro da região, oportunizando a emersão de uma dinâmica IA – Inteligência Artificial, que sugiro a efetivação, no Recife, na Fundação Joaquim Nabuco, de um amplo Seminário Regional denominado SOS NORDESTE FUTURO, envolvendo as mais diferenciadas representações, debatendo alternativas para o atual nível situacional, despertando muitos para livramento do marasmo socioeconômico, ensejando projetos sobre as potencialidades regionais e locais, sem histerismos nem sectarismos ideológicos, tampouco interesses vulgares, nem demagogias populistas.

A meta principal do evento deverá ser a de aglutinar os segmentos que se interagem na área socioeconômico-político-cultural do Nordeste, para garimpar propostas e projetos empreendedores que acelerem o ingresso do todo regional em níveis de desenvolvimento compatíveis com as exigências de uma contemporaneidade século XXI.

Manifestar-se sem dogmatismos, eis um bom lema para um encontro que busca saídas concretas. Para desmascarar, inclusive, os que idealizam o Nordeste como uma enorme lata de lixo, repleta de ideologias obsoletas, das mais diferenciadas classificações, inclusive religiosas, que proliferam sob múltiplas incoerências, réplicas monstruosas ou caricatas das matrizes oligárquicas.

O cientista social Oscar Lewis, aponta algumas características econômicas, psicológicas e sociais dessa cultura. Segundo ele, a tipicidade da cultura dos pobres se encontra refletida na luta constante pela vida, no desemprego, nos baixos salários, nos empregos não-especializados, no trabalho de crianças, na penúria crônica de liquidez monetária, na ausência de reserva de alimentos, na dependência de agiotas, na falta de intimidade, no espírito gregário, no alcoolismo, no recurso frequente à violência para acertar disputas, nos castigos corporais nas crianças, no abandono relativamente frequente de mulher e filhos, na predominância do autoritarismo machista, numa quase única preferência pelo presente e numa impossibilidade orgânica de adiar para um amanhã mesmo próximo os mais simples projetos.

Para que o SOS MORDESTE FUTURO produza resultados, algumas premissas tornam-se imprescindíveis, sem as quais tudo ficará reduzido a mais um muro de lamentações. Atrevo-me a enumerar algumas delas, na certeza de ser devidamente compreendido pelos que entendem de limitações, inclusive educacionais:

a. Terá espírito puramente negocista toda discussão que não levar na mais alta conta as chances de sobrevivência cidadã de todos os segmentos regionais, respeitando-se sempre a Vida no seu sentido o mais abrangente possível.

b. Uma nova atitude para com a natureza também se faz necessária, mormente quando o mundo inteiro debate os direitos de sobrevivência climática.

c. A solidariedade humana deve ser entendida como uma maneira de se ensinar todos a pescar, sendo necessário, sempre que houver ocasião, proclamar que a educação para todos, mormente a educação básica de eficaz conteúdo, amplia a cidadania e fortalece os direitos e deveres dos entornos comunitários.

d. Um programa permanente de capacitação empresarial, através dos mais diversos estímulos promocionais, ampliará a compreensão dos empreendedores acerca das questões básicas, todas elas relacionadas com o trinômio economia x criatividade x sociedade.

e. Um amplo, consistente e não-direcionado mecanismo de incentivo à participação política deverá sempre estar presente em todas as linhas comportamentais mestras das empresas, entendendo-se como participação política o envolvimento de todos nas áreas de suas convivialidades.

Na atualidade, empresários, sindicalistas, homens públicos, líderes comunitários, militares e religiosos não fundamentalistas, tampouco cretinos, estão percebendo que o apenas mais-ou-menos é muito pouco. Fazer o melhor, eis o mote para se sair de uma situação deficitária, sempre se assessorando nos melhores talentos eticamente vocacionados. É chegada a hora da reinvenção de empresas, empresários, homens públicos e lideranças as mais diversas. Todos com a certeza de que, numa sociedade que se informatiza rapidamente, acelera-se a urgência de fecundas ultrapassagens, na linha de frente se firmando uma inadiável qualidade de vida para todos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *