Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios.
A única entre todas a quem dei os
Carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! – uma cadela
Talvez… – mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro-RJ (1913-1980)
Não vejo devoção neste Soneto.
Vejo sim uma relação doentia de um cara vivido e amante de várias, por uma mulher bela, porém escorregadia (lúbrica), que ri da insegurança do homem a seus pés.
Este, por outro lado, como egoísta que é, a marca com mordidas e a chama de cadela.
Há algo mais doentio que isso?