O PT finge que não vê o fantasma de Celso Daniel. Não foi um companheiro morto heroicamente na resistência da luta armada. Foi um companheiro vítima do fogo amigo. Há algum tempo eu vi uma entrevista dada a Geneton Moraes Neto por Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, conhecido como Comandante Clemente, que chegou a ser o sucessor de Carlos Marighela na luta armada brasileiro. Nessa entrevista, Clemente admite participação na morte de Márcio Leite de Toledo, um jovem de 19 anos que era integrante da Aliança Libertadora Nacional. Márcio pediu “autorização” para se ausentar do país, dada a repressão, e Clemente entendeu que ele ia entregar o movimento. Atraíram o rapaz numa emboscada e o fuzilaram, sem piedade.
Comparo essa ação ao que se fez com Celso Daniel. Prefeito de Santo André, petista fundador do partido, Celso se viu envolto num emaranhado de corrupção justificada como importante para bancar a candidatura de Lula em 2002. Ao que se sabe, ele tinha um dossiê com o esquema de corrupção detalhado e estava prestes a romper esse vínculo. Não sabia ele que o sistema mata mais do que cigarro ou bebida alcóolica e em janeiro de 2002, Celso é sequestrado e morto. O problema se estende além dessa morte porque surgiu um encadeado de assassinatos com pessoas diversas.
Registra-se que em 18/01/2002, Celso Daniel jantava numa churrascaria com Sérgio “Sombra” e saiu em sua companhia num carro blindado que foi cercado e metralhado. Os bandidos liderados por Dionísio Severo, um especialista em sequestro evadido de um presídio numa cena cinematógrafica. A primeira coisa estranha é que a porta do carro só poderia ser aberta por dentro… e foi. Tiraram Celso Daniel do veículo e não mexeram com Sombra. Nem o assustaram. Portanto, se fosse um crime comum, ambos seriam mortos na hora.
Depois disso, Severo participou de um assalto que deu errado e voltou para a cadeia e foi assassinada com 60 facadas. Com a sua morte, descobriu-se que ele se comunicava com um policial civil, chamada Otávio Mercier que foi assassinado a tiros, em 2013. O garçom que atendia Celso, “sofreu” um acidente quando era perseguido dois homens e sua moto se chocou com um poste. Uma testemunha desse acidente foi assassinada a tiros em 2004. Mas, não para por aí: o agente funerário que reconheceu o corpo de Celso Daniel foi morto a tiros. O legista que declarou que a vítima sofreu torturas intensas foi morto uma semana após ter dada uma entrevista no programa de Jô Soares. Sérgio Sombra morreu em 2015.
Essas coisas assustam bastante, não apenas pela violência em si, mas pela posição das autoridades. A pressa em classificar como crime comum ganhava medalha de ouro nos 100 metros rasos. A delegada Elisabete Saito mandou arquivar o processo “por falta de provas” e talvez ela tivesse um pouco de razão porque “as provas foram sendo eliminadas gradativamente”. Em 2016, o Sérgio Sombra morreu de câncer e os mandantes aquietaram-se no silencia da consciência pesada, mas o que importa?
No meio de tudo isso, eis que Marcos Valério, operador do mensalão, único envolvido nessa ação que ficou preso, tem uma delação premiada homologada por Celso de Mello, então ministro do STF. E Marcos Valério relaciona o PT, relaciona Lula com a morte de Celso Daniel, chegando a dizer, inclusive, que Lula foi chantageado por Ronan Pinto pra não ser envolvido nesse emaranhado de imundície.
Marcos Valério dá argumentos que, no mínimo, deveria ser objetos de investigação. Um deles é que não seria interessante para a campanha petista ter filiados presos e não deveria envolver a estrela máxima do PT num crime praticado com requintes de perversidade. Optou-se pelo silêncio.
A sociedade tem o direito legal de saber o que houve e de saber quem são os mandantes porque a rede criminosa não envolve apenas uma cabeça. Celso Daniel e Márcio Leite de Toledo foram mortos pelo mesmo motivo: não quebrar a hegemonia de um sistema ideológico que não se preocupa em descartar quem se opõe aos seus conceitos. Em meio a isso tudo, temos nomes envolvidos nesse lamaçal concorrendo às eleições de 2022, com a benevolência do STF. “Dura lex sed látex” ou seja “a lei é dura, mas estica” e esse é sentimento que mais incomoda: imaginar que todos somos imbecis.
Maurício, eu sempre digo que este sequestro e assassinato é o maior mistério deste século no Brasil. A resolução dele acabaria não só com o PT, mas toda a esquerda e boa parte da Elite do país.
O PSDB está umbilicalmente ligado, pois o governador à época era, vejam só. Geraldo Alckmin. A polícia de SP era (e ainda é) a mais eficiente do BR, tendo resolvido muitos casos escabrosos. Foi designada para esta investigação a delegada Saito, que vinha a ser contra parente do Lulla. Evidentemente não encontrou nada de anormal no sequestro, contra todas as evidências. Foi promovida na P. Civil por esta sua “atuação”.
É um tema tabu falar no assassinato do C. Daniel, assim como é, falar que houve mandantes para a tentativa de assassinato do Bonoro em 06/09/2018. Isso mexe com todo o Sistema. Não só o Larápio e o PT.
Maurício, como você sabe, conheci pessoalmente esse excremento humano chamado Lula quando trabalhei na Villares em São Bernardo do Campo.
Lula não tem o menor pudor em se livrar de quem quer que seja, companheiro ou não, amigo ou não, apoiador ou não. Por isso, se me permite, tomo a liberdade de sugerir que discordo do ilustre João Francisco, que diz que o assassinato do Celso Daniel é um mistério. É, simplesmente, a constatação lógica a mais do caráter (ou da falta de) daquele cafajeste.
E vou dizer algo mais: o Alckmin que se cuide. Exemplos não faltam.
Um grande abraço,
Magnovaldo
Pois é Magnovaldo. O Césare Battisti disse que Lula era capaz de tudo pra voltar ao poder. Em relação a Alckmin, eu concordo perfeitamente com você. O pessoal em torno de lula é muito reacionário
Tens razão. Elucidar esse crime em 2002 afetaria a campanha de Lula. Então, enterra-se o cara com consternação tal qual ele fosse contaminado por césio -137. Um caixão de chumbo pra não se falar mais sobre isso.
Caríssimo Maurício,
“Dura lex sed látex” ou seja “a lei é dura, mas estica” para beneficiar sempre os mesmos…
Daí meu antigo projeto de que bandido bom é bandido trancafiado para julgamento para posterior veredito: pena de morte, prisão perpétua ou cana dura de 30 anos sem direito a nenhum benefício.
Eis uma analogia – através de analogia: considerando os aspectos semelhantes (em comum, análogos) existentes entre as coisas associadas: o cabra rouba um cidadão e é apenado com xis anos; um prefeito roumunícipes, o mesmo ocorrendo com governadores (pena de 1 multiplicada pelo número de habitantes do estado) e no caso presidencial, multiplicar-se-ia pelo número de cidadãos de tal país. Creio que diminuiria bastante o tal crime do colarinho branco…
Perguntinha retórica: Haverá algum político disposto a fazer tramitar tal projeto?
Não, mas a população pode propor como foi feito na ficha limpa. Basta um milhão de assinaturas.
Não era lei. A constituição permite que leis de iniciativa popular. A lei de ficha limpa foi proposta assim. Lógico, depois tem a formalização no congresso. No caso do impeachment era um abaixo -assinado dirigido ao presidente do senado pra abrir o processo contra Alexandre. Como abaixo assinado não tem força de lei.
A pressão popular assusta. Ulysses Guimarães dizia que a única coisa que mete medo em político é o povo nas ruas. Eu acho que as pessoas que buscam combater a corrupção, são muitos dispersas e pouco organizadas. A gente fala sempre para o mesmo público. Não estamos nas ruas, não estamos nas escolas dando às pessoas a oportunidade de conhecer o que nesse país e tomar um posicionamento. Veja você: Lula e Alckmin marcaram agendas com diversos deputados. O que você acha que eles irão falar ou prometer?
O recado de 07/09 foi diferente. Foi visto que o presidente tinha apoio popular. Não acho que a data deveria ser usada para qualquer outro motivo que servisse como um “atentado à democracia”. Embora tenha seus custos, ainda é o melhor regime de se viver. Desde o governo Bolsonaro que ouço falar em golpe. Eu respondo perguntando quais os motivos que as forças armadas teriam para dar um golpe, principalmente quando num golpe o presidente é deposto? Estão lutando com armas erradas e dando munição para que a esquerda ganhe espaço. Ontem um cara atirou num petista. Não é dessa forma que eu imagino o debate democrático. Eu não concordo com ações extremas de lado nenhum. A lucidez deve prevalecer para sustentar o Brasil como um país livre, com crescimento econômico e melhoria do bem estar da população.