Tardinha… “Ave-Maria, Mãe de Deus…”
E reza a voz dos sinos e das noras…
O sol que morre tem clarões d’auroras,
Águia que bate as asas pelo céu!
Horas que têm a cor dos olhos teus…
Horas evocadoras doutras horas…
Lembranças de fantásticos outroras,
De sonhos que não tenho e que eram meus!
Horas em que as saudades, p’las estradas,
Inclinam as cabeças mart’rizadas
E ficam pensativas… meditando…
Morrem verbenas silenciosamente…
E o rubro sol da tua boca ardente
Vai-me a pálida boca desfolhando…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Florbela começa satirizando a hora do ângelus, com os sinos que tocavam e as noras rezam.
À partir daí passa a lembrar, comparando o sol poente com a boca ardente de seu amante à desfolhar sua pálida boca.
Florbela não era uma rapariga qualquer.