CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Albertão ao formar-se em engenharia foi morar na bela Vitória do Espírito Santo, por conta de um emprego numa grande construtora. Com um ano de trabalho, tornou-se um dos mais conceituados engenheiros da empresa.

Celina, a noiva, de Maceió fazia uma discreta, pertinente e constante pressão. Ele resolveu se casar, deixar a vida de solteiro. O mulherio de Vitória é deslocado, moderno e alegre. Alberto levava uma vida invejável, no trabalho e na boemia. Deixou a boa vida para casar com Celina, namoro desde criança.

O casamento foi na Igreja de Santa Rita no Farol. Estava a fina flor da sociedade alagoana, com direito a fotografia nas colunas dos jornais, a família da noiva era muito chegada a badalações.

Em Vitória, o casal instalou-se num apartamento do melhor bairro da capital capixaba. Alberto viajava frequentemente, a distração da esposa era assistir televisão, falar com os amigos nas redes sociais, naquela época era novidade.

Numa bonita tarde de sexta-feira, Albertão em viagem de trabalho, Celina foi ao supermercado fazer compras, abastecer a geladeira e a despensa no fim de semana. No retorno, dirigindo seu belo carro, parou em uma sinaleira vermelha. De repente teve um susto, avistou seu amado marido em um carro do outro lado da rua, acompanhado por uma loura. Celina, surpresa, acenou para Alberto, ele não respondeu. Ao abrir o sinal, os carros se cruzaram, ele passou disparado olhando para frente. Ela deu a volta no carro, tentou segui-lo, mas, o carro do marido perdeu-se na multidão.

Chegou em casa com dor no peito. Um misto de decepção, raiva e impotência. Deprimida, sem ânimo, guardou as compras, ficou a meditar. “Será que não era mesmo Alberto? Mas eu vi, tenho certeza!” Veio-lhe a dúvida, telefonou para o celular do marido, deu fora de área. Telefonou para a construtora, a empresa informou que Dr. Alberto estava em Brasília.

Eram onze da noite quando o maridão apareceu no apartamento. Celina acordada, o recebeu com lamúrias:

– Não adianta me embromar. Você estava no carro com uma piranha loura. Não sou maluca! Você não me engana!

Albertão aparentando surpresa e paciência, falou calmo, estava viajando, ela confundiu com alguém. Estava trabalhando em Brasília, mostrou como prova a passagem de avião.

As contínuas negações encheram Celina de dúvidas. Depois de algum tempo, aceitou com restrições as explicações do marido.

Na cama, Alberto deu tudo de si, não podia demonstrar cansaço, a tarde de amor com a loura maravilhosa foi desgastante, não podia deixar suspeita, afinal a mulher lhe deu um flagra.

Os anos passaram. A dúvida nunca saiu do coração e da mente de Celina. Algumas vezes volta a comentar o dia trágico que flagrou seu marido com uma loura num sinal de trânsito em Vitória. Ele continua negando peremptoriamente.

Albertão, hoje setentão, senhor de seus negócios, tem uma vida folgada, fruto de seu trabalho. Voltou de vez para Maceió, comprou um belo apartamento na Ponta Verde. Tem tudo do melhor. Dá o conforto merecido para a família que ele preza, ama e conserva; apesar de continuar com o enorme defeito: gostar de uma rapariga.

Esta história me foi contada por Alberto enquanto tomávamos uma gostosa cerveja na Barraca Pedra Virada. Ele afiançou enfático, ao arrematar a narrativa:

– Pois é irmãozinho. Para você viver bem, tem que negar com convicção, negar sempre até o fim. Esse negócio de confessar é morte certa, é o suicídio pela sinceridade. Nunca cometa o sincericídio.

Levantou-se, deixou dinheiro para conta, colocou a mão no bolso, saiu assoviando. Havia marcado com Teca, uma loura de programa que atende em seu próprio carro e apartamento, especialista em prestação de serviços aos idosos. Albertão fez-lhe os maiores elogios: eficientíssima.

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