Uma das coisas mais interessantes de se observar é quando dados, ou fatos, desmentem certos discursos. Como analista de dados, eu acho fantástico o silêncio que se segue quando as contradições são expostas. Os exemplos se multiplicam, jogando na lona arroubos políticos. Já falei uma determinada ocasião sobre Paulo Maluf. Ele, por sua formação em engenharia, gostava de mensurar determinadas ações do governo, grande parte delas, pura fantasia.
Ciro Gomes faz isso, mas com um agravante: a única inteligência, imediatamente inferior à dele é a de Jesus Cristo. Agora, tem um momento que ele foi bastante lúcido: eleição de 2018, ele foi acusado de abandonar a candidatura de Haddad e ter viajado para Paris, transferindo votos dele para Bolsonaro. Isso foi dito largamente pelo PT e numa entrevista os jornalistas partiram para cima dele com esse argumento. Ele calou todos dizendo: “faça uma conta simples. Peque os votos que eu tive e some com os votos de Haddad. Bolsonaro teve 11 milhões de votos a mais. Como eu ia transferir votos que eu não tive?”. É isso: muitas vezes, basta uma conta simples para enterrar certos argumentos mentirosos.
Nos idos de 2012, a então presidente Dilma, recebeu do IBGE um pedido de apoio financeiro para ampliar a pesquisa de desemprego no Brasil, captando não apenas a região metropolitana das capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Belém), mas cidades interioranas. O piloto da pesquisa apresentado, sinalizava uma taxa de desemprego bem maior do que a taxa oficial. A proposta foi enterrada, beirava o ano 2014 e havia uma eleição no meio do caminho. Com ou sem pesquisa, 13 milhões de brasileiros perderam o emprego em 2014.
É difícil manter um argumento quando há um reconhecimento externo, seja de que natureza for e aqui eu me refiro ao Nobel da Paz concedido, este ano, a Maria Corina Machado, opositora do regime de Maduro na Venezuela. Calaram-se os apoiadores declarados e ocultos de Maduro. Sabe-se que ele tem respaldo do Irã, da Rússia, de Cuba, da Coreia do Norte de algumas republiquetas miseráveis, incluindo Brasi. Circulou por aí um vídeo onde o secretário do comitê comunicou o prêmio e foi fantástico ouvi-la dizer: “oh! my God!”
A luta dessa jovem engenheira com mestrado em finanças é longa e árdua. Ano passado, ela teria todas as condições de ganhar a eleição contra Maduro, no entanto, o regime usou de todos os argumentos possíveis para inviabilizar sua participação no pleito. Ressalte-se que em 2014, seu mandato parlamentar foi cassado, ela foi proibida de deixar o país, sofreu toda a sorte de perseguição, mas nunca – não que eu me lembre – alguém ergueu sua voz para dizer que isso era arbitrariedade.
Os efeitos dessa escolha foram imediatos: Maduro fechou a embaixada na Noruega em nítida retaliação como se a Venezuela fosse algo com poder significativo de abalar a moral dos noruegueses. Nitidamente, a escolha de Maria Corina é uma sinalização que o mundo faz para todos os regimes autoritários, restritivos dos direitos democráticos e que transitam apenas em determinados lugares coniventes com sua prática. Putin e Maduro, por exemplo, não transitam livremente por diversos países por receio de prisão.
O prêmio reforça que a defesa da democracia, a transparência governamental, a participação do cidadão, mesmo quando a repressão é expressiva, é um instrumento de “resistência pacífica” e que se tornar reconhecido globalmente. De forma direta, esse prêmio para o povo venezuelano, citado por ela nas suas palavras de agradecimento, se transforma num símbolo a medida que unifica a oposição – que de certo modo é liderada ou inspirada por ela – a lutar mais intensamente, com melhores armas e de forma pacífica, a buscar a libertação do país de um regime injusto e desumano que ora se encontra sob ameaça da pressão dos Estados Unidos. Não custa lembrar que Ghandi fez a Inglaterra se retirar da Índia com a estratégia de não violência.
Maduro está “no mato sem cachorro”. O eco dessa premiação está ressoando em muitos lugares e até mesmo Secretário da ONU chegou a dizer que este prêmio “reflete as claras aspirações do povo da Venezuela por eleições livres e justas, por direitos civis e políticos e pelo império da lei”. Como se sabe, Maduro nunca apresentou publicamente o resultado das eleições, porque as atas eleitorais mostravam que ele teve pouco mais de 20% dos votos válidos. O presidente do Brasil chegou a solicitar publicamente que isso foi divulgado e o grande Maduro rebateu dizendo que na Venezuela o voto era impresso e no Brasil, não. Fez uma alusão as dúvidas que pairam sobre a eleição do presidente brasileiro.
Vi apelos de Maria Corina, inclusive para o presidente brasileiro, usar seu canal com Maduro e convencê-lo a sair de fininho. Até onde se sabe isso não foi e não será feito. Pelo contrário: o presidente brasileiro criticou as ações americanas no entorno da Venezuela, defendendo a tal soberania do país. O que se sabe: Maduro ofereceu petróleo a Trump e num evento recente ele falou: “no war, piece”. Agora é tarde, Maduro. Você vai cair de podre. Fuja porque sua cabeça está a prêmio e não é um Nobel.
Caro Assuero, mais um primor de texto, parabéns. Passando pro nosso lado, com a delação do ex-general Venezuelano, suspeitas ou certezas quanto a cumplicidade da alma mais honesta com o quase podre da Venezuela?
Meu caro, peço desculpas. Muito trabalho, inclusive aos domingos e aí não deu tempo de responder. Obrigado pela presença. Suas palavras incentivam bastante. A relação com a Venezuela é umbilical
Caro Mestre Assuero.
Sempre aos domingos, o começo do dia é de aula.
E você, sempre didático, com temas da atualidade.
Nem precisaria do nosso aplauso pois sou apenas um, sabendo que todos os seus leitores são cativos do JBF..
Hoje você botou mesmo pra arrombar o furico de Xolinha, como diz nosso Berto, com tanta propriedade, em certos casos, lófgico.
“O que se sabe: Maduro ofereceu petróleo a Trump e num evento recente ele falou: “No war, piece”. Agora é tarde, Maduro. Você vai cair de podre. Fuja porque sua cabeça está a prêmio e não é um Nobel.”
Com um abração dominical, Carlos Eduardo.
Carlos, faça isso não! Aula dá você, sempre. Abraços.