Sabemos nós que, como “não há mal que dure para sempre, nem bem que nunca acabe”, qualquer dia desses, Deus, na sua onipotência, acordará o homem para produzir pelo menos o pão da vida de cada dia. Com dignidade, desejamos.
O Maranhão é, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), o estado mais pobre da federação brasileira – mas, com certeza, na ponta de qualquer medição de outro instituto, na alegria e diversão, o posicionamento muda para um dos primeiros lugares.
Assim é constatado que, ainda distante, ruas e praças e muitos logradouros, logo vencerão essa distância e começarão a se enfeitar com bandeirolas e a conhecida alegria contagiante. Todo ano é assim.
O movimento nos barracões já se percebe intenso. Não é diferente dos barracões das escolas de samba do carnaval paulista ou carioca: pessoas que amam a diversão largam afazeres domésticos e se dedicam de corpo e alma para o “enfeitamento” das fantasias e fabrico dos adereços que brilharão nos terreiros e praças de São Luís.
Até a vestimenta dos “miolos do boi” (um dançarino que carrega o boi que dança) é cuidada com esmero, ainda que ele não apareça tanto para o público – mas faz parte da grande festa que essa cultura tradicional encanta Brasil à fora. Há anos. É folclore. É patrimônio cultural da humanidade.
Boi da Maioba
Se Não Existisse o Sol
Se não existisse o sol
Como seria pra terra se aquecer?
E se não existisse o mar
Como seria pra natureza sobreviver?
Se não existisse o luar
O homem viveria na escuridão
Mas, como existe tudo isso, meu povo
Eu vou guarnecer meu batalhão de novo
Mas, como existe tudo isso, meu povo
Eu vou guarnecer meu batalhão de novo
Se não existisse o sol
Como seria pra terra se aquecer?
E se não existisse o mar
Como seria pra natureza sobreviver?
Se não existisse o luar
O homem viveria na escuridão
Mas, como existe tudo isso, meu povo
Eu vou guarnecer meu batalhão de novo
Mas, como existe tudo isso, meu povo
Eu vou guarnecer meu batalhão de novo
No Maranhão, o que muitos de outros estados chamam de letra de música, o que está acima é a letra de uma “toada” – que, como uma Escola de Samba, muda a cada ano, e, também acontecem sessões para a escolha da “toada” do ano.
A “toada” acima foi imortalizada por um cantador conhecido como “Chagas da Maioba” – atualmente afastado por conta de desentendimentos, e “cantando toadas” noutro bumba-boi, convive com a dificuldade de se desvencilhar do rótulo com que ficou, também, imortalizado.
“Brincante” do boi da Maioba
Maioba, em São Luís, é equivalente a Mangueira, Vila Isabel ou Catumbi, no Rio de Janeiro. Maioba não é um bairro, tampouco um povoado. Como preferem os maranhenses de São Luís, “Maioba” é um lugar. Ou, como se referem os apreciadores, “Maioba” é quase tudo desde o dia 1 de abril (quando são iniciados os preparativos para o que está por vir), até o dia 30 de junho, dia de São Marçal, reverenciado no dia seguinte com as apresentações no dia de São Pedro.
Todos os “ensaios” têm início no mês de abril. São centenas de “bois” com denominações diferentes, mas não são tantos os que são reverenciados. Boi de Iguaíba, Boi de Ribamar, Boi do Maracanã, Boi da Maioba, Boi de Pindaré, Boi de Morros, Boi de Axixá, Boi de Matinha e mais duas ou três centenas de bois.
Os ritmos são contagiantes. Os ritmos são chamados de “sotaques”. Os sotaques são, Orquestra, Matracas e pandeirões, Costas de Mãos (esse um “sotaque” quase extinto).
Difícil, o assistente presencial não ser contagiado pelo ritmo e se deixar cair na folia, ainda que jamais tenha feito isso – é contagiante e muito fácil dançar bumba-boi.
Matraqueiros e matracas
Eis que, na noite de 31 de maio as ruas são enfeitadas. Na manhã do dia 1 de junho, São Luís se transforma num “terreiro cultural” – abrindo a temporada junina oficial, no dia 13, dia dedicado a Santo Antônio.
Bandeirolas enfeitam as ruas. Casinhas-da-roça montadas nas praças e demais logradouros públicos, funcionam à noite e recebem visitantes ou não. Culinária local vira atrativo e as “toadas” são tocadas nos aparelhos de som. Contagia!
E é nessa hora que o IBGE não atua. Não divulga para o Brasil e para o mundo, o milagre de tanta gente sofrida que vive no Estado mais pobre da federação, conseguir – ainda que de forma temporária e ilusória – superar as dificuldades reais do dia-a-dia.
Pandeirões do Boi da Maioba
Santo Antônio, São João, São Pedro. O maranhense acrescentou São Marçal. Santo Antônio abre e São Marçal encerra – com apresentação apoteótica de dezenas de bois de sotaques diferentes, os festejos juninos. Antes, “joaninos” pela dedicação a São João. Agora, “juninos” por referência ao mês de junho.
“Se não existisse o sol
Como seria pra terra se aquecer?
E se não existisse o mar
Como seria pra natureza sobreviver?
Se não existisse o luar
O homem viveria na escuridão
Mas, como existe tudo isso, meu povo
Eu vou guarnecer meu batalhão de novo!”