CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Máquina linotipo

Em 1956 eu me encontrava no auge do fascínio por tudo quanto se referia à Comunicação, sobretudo a confecção de um jornal. Foi o tempo em que me iniciei no Diário de Pernambuco, como aprendiz.

Não sendo funcionário do jornal, mas bancário, recebia os encargos de reportagem do Editor Antônio Camelo e no dia seguinte apresentava, em folhas datilografadas, meu trabalho.

Como havia sido levado por Fernando Barreto, fui sendo apresentado aos funcionários das “oficinas”, captando amizades com a turma dos setores que trabalhavam no que hoje chamamos: diagramação eletrônica.

Naqueles anos tudo era em fero e chumbo. Depois das letras saídas do papel e as fotos, tudo era muito sujo de óleo.

Havia mesas enormes, em plano inclinado, onde os técnicos iam arrumando as matérias semiacabadas. As mais longas chegavam às mesas, preparadas pela linotipo, em chumbo. Os títulos eram preparados letra por letra.

As frases a serem organizadas para as partes superiores eram elaboradas através da colocação de letras metálicas, geralmente maiúsculas, que formavam as manchetes e subtítulos.

A habilidade dos funcionários daquele setor – conhecidos como “compositores” – me encantavam. Existiam grandes gavetas com divisões de madeira onde estavam separadas letras metálicas, que iam sendo retiradas uma por uma até formar as frases.

As partes fotográficas apareciam em chapas de metal fixadas em madeira, que se chamavam: clichés.

Ocupando o jornal todo o edifício da Praça da Independência, a partir do momento em que se entrava no minúsculo elevador já se sentia o cheiro do chumbo derretendo, enquanto o mestre Amaro operava aquela geringonça altamente complexa, a linotipo, cheia de manivelas, que durante mais de um século contribuiu para a difusão das letras impressas no mundo.

Passados os tempos segui rumo próprio como editor de jornais, revistas e livros, passando a contratar serviços com várias “oficinas”. Mas o cheiro de chumbo derretendo na linotipo do Diário jamais foi esquecido.

Muitos anos depois, ao passar por aquela calçada, diante do prédio, eu me demorava por instantes, na porta do velho jornal, a fim de sentir o cheiro do chumbo; como se convocasse minhas mais emocionantes lembranças dos primeiros anos de jornalismo.

Outro dia, ao visitar a Companhia Editora de Pernambuco, me deparei com a exposição de uma linotipo, que me pareceu novinha em folha, mas faltou uma coisa para ativar minhas lembranças: o cheiro inesquecível de chumbo derretendo.

Edifício onde funcionou o Diário de Pernambuco

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