À Mazé
Mandar, em pensamento, além, pelo infinito,
A pluma de um desejo, a voz de um sonho aflito
Do amor que naufragou nas cerrações do pranto.
Recompor, um a um, no cérebro vazio,
Uns momentos de sol… um céu azul de estio…
Uns beijos, uma jura, uma promessa, um canto!
Sufocar dentro d’alma o pássaro das ânsias
Que deseja espalmar nas siderais distâncias
A plumagem do afeto a gotejar lamentos…
Dirigir para além, como visões dispersas,
Emoções, madrigais, palpitações, conversas
Que falaram de amor — ao diapasão dos ventos!
Sentir em redemoinho as folhas secas, lívidas
Da derradeira fronde… inolvidáveis dívidas
Que o peito contraiu quando alguém disse ADEUS!
Guardar no solo ardente da alma descampada
As sombras do rochedo… a cicatriz magoada
Que a dor deixa no olhar dos tristes Prometeus!
Rogaciano Bezerra Leite, São José do Egito-PE, (1920-1969)