O sertão de hoje é diferente do que conheci em Assaraí do Norte. Tudo mudou: suas coisas, suas cores, sua gente. Sem televisão ou celular, havia os que gostavam de caçar e os que gostavam de pescar. Uns que mentiam, ainda que sem maldade, apenas para vangloriar-se; outros que seguiam os conselhos do padre local e só falavam a verdade.
Havia, também, os que não gostavam nem de uma coisa nem de outra, nem de pescar nem de caçar, nem de verdades nem de mentiras. Preferiam passar as tardes no cabaré de Filó ouvindo e contando histórias, bebendo cerveja e falando de vantagens para as mulheres trabalhadoras que ali moravam. Assim eram os moradores daquela cidadezinha do interior. Bendito cabaré, sempre cheio de gente vazia.
Filó dos Prazeres, dona do recinto e preferida da meninada por suas coxas fartas e seios muitos, era a protagonista maior das safadezas juvenis da região e ganhou esse apelido ante as estripulias prazerosas que promovia em seu quartinho de amor, fazendo a alegria da criançada recém-saída da adolescência, recém-entrada na puberdade. Nenhum deles deixou de passar pelas mãos carinhosas de Filó, a inimiga número um dos cabrestos íntegros das redondezas. Aos meninos, permitia todas as carícias e afoitezas com a generosidade que só ela tinha. Assim, foi a iniciante preferida de 10 entre 11 jovens virgens e puros do lugar. Todos passavam pelas ‘aulas’ de iniciação safadística ministradas pela mestra do assunto.
Agora, fico a imaginar Filó no céu, sentada bem juntinho de Nosso Senhor, por ele premiada pelo bem que fez à meninada de um longínquo Sertão, quando ela hojeava o amanhã da meninada, a eles antecipando as doces emoções da vida mundana. Salve Filó, hoje Santa Filó dos Prazeres, pelo merecido céu.
Queria só saber se passou algum Xico, por aquela cama. Será???
Todos tivemos nossas Filós, meu caro Doutor Zé Paulo. Umas se chamavam Glorinha, outras Terezas e outras tantas de nomes tantos, todas hoje Santas, como Filó dos Prazeres. Ainda bem que as camas não falam …
Belo e sensível registro de um Brasil bucólico e, de certa forma, inocente, que um dia existiu e que hoje ainda viceja nas lembranças daqueles que fazem parte da nossa geração. Parabéns, Xico Bizerra, por sua capacidade de registrar, tão magistralmente, essa realidade do passado recente da sociedade brasileira e, particularmente, das cidadezinhas dos nossos sertões mais distantes. Salve Santa Filó dos Prazeres e a sua imensa legião de seguidoras país afora!…
Salve, Salve todas as Filós, tão importantes para os da minha geração quanto os Catecismos de Zéfiro, que calejavam nossas inocentes mãos. Abraço de gratidão ao Alexandre Baracho pela generosidade de seu comentário.