CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

Meu Papa.

Diante dos tempos bicudos que estamos vivendo, onde o certo está virando errado e o errado virando certo, José Cândido de Carvalho já nos presenteava, há mais de 50 anos, com uma antecipação de nossos dias.

Pena que não demos ouvidos a ele.

* * *

A VERDADE TAMBÉM APANHA – José Cândido de Carvalho

Quando chegou em Pipeiras o delegado Nonô Pestana foi aquele zunzum, aquele mal-estar. O delegado veio arrastando enorme palmatória. Era com muito orgulho que Nonô dizia mostrando o instrumento de trabalho:

– Comigo não tem esse negócio de confissão espontânea coisa nenhuma! Comigo todo mundo entra no instrumental. É o único jeito da autoridade saber se o sujeito é criminoso ou inocente.

E bem Nonô não havia arregaçado as mangas apareceu um retinto dizendo ter dado morte por esquartejamento a um tal de Chico Cabeção. Pelo que confessou estar arrependido e pronto a purgar, nas malhas da lei, o crime de sua lavra:

– Matei e enterrei Chico Cabeção no quintal de minha casa.

De fato, o esquartejado lá estava mortinho da silva de nunca mais voltar a ser Chico Cabeção. Foi quando o delegado, dentro dos seus princípios justiceiros, passou o confessante por uma palmatória braba e esperta. E o sujeitinho tanto apanhou que acabou desconfessando tudo. Jurou de mãos postas que era mentiroso e inventeiro. Que outro tinha esquartejado Chico Cabeção. E Nonô orgulhoso:

– É o que eu digo e provo. Não tem como uma palmatória para o suspeito contar a verdade. Se não ministro esse corretivo, o delegado Nonô Pestana, que sou eu, mandava para uma cadeia de trinta anos um pobre inocente.

3 pensou em “ROQUE NUNES – CAMPO GRANDE-MS

  1. Roque Nunes, sou desde jovem, fã incondicional do genial José Cândido de Carvalho. Pena que 90% dos brasileiros não conhecem sua obra. A maioria acha que o Coronel e o Lobisomem, por ter sido filmado, é de autoria de algum noveleiro da Rede Goebbels.
    Parabéns pela postagem.

    • Fiz meu Mestrado em cima de um livro dele… O Coronel e o lobisomem. Hoje eu tenho as obras Olha para o céu, Frederico, 37 retratos 3×4… estou a procura da obra “Contados, astuciados, sucedidos e acontecidos do povinho do Brasil”. Herberto Salles diz que ele escreveu uma cartilha chamada “Pinóquio em busca de Branca de Neve”. Esse eu nunca achei, mas daria meu dedo mindinho esquerdo para tê-lo em mãos.

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