Fui nova, mas fui triste; só eu sei
como passou por mim a mocidade!
Cantar era o dever da minha idade…
Devia ter cantado, e não cantei!
Fui bela. Fui amada. E desprezei…
Não quiz beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade…
Devia ter amado, e não amei!
Ai de mim! Nem saudades, nem desejos;
nem cinzas mortas, nem calor de beijos…
— Eu nada soube, nada quis prender!
E o que me resta? Uma amargura infinda:
ver que é, para morrer, tão cedo ainda,
e que é tão tarde já para viver!
Virgínia Vitorino, Alcobaça, Portugal (1895-1967)
A poetiza Virgínia ficou na janela e viu a vida passar.
Quando se deu por conta, viu que não viveu, só a viu o tempo passar.
Mas, ao contrário dela eu digo; nunca é tarde para viver emoções.