PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Fui nova, mas fui triste; só eu sei
como passou por mim a mocidade!
Cantar era o dever da minha idade…
Devia ter cantado, e não cantei!

Fui bela. Fui amada. E desprezei…
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade…
Devia ter amado, e não amei!

Ai de mim! Nem saudades, nem desejos;
nem cinzas mortas, nem calor de beijos…
— Eu nada soube, nada quis prender!

E o que me resta? Uma amargura infinda:
ver que é, para morrer, tão cedo ainda,
e que é tão tarde já para viver.

Florbela Espanca, Portugal (1894-1930)

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  1. Coitada da Florbela, morreu sem amar, sem cantar (eu entendi o que ela quis dizer), sem saudades, desejos, beijos ardentes.

    Morreu com 36 anos e já se achava velha para recuperar o tempo perdido.

    Aí me vem uma pergunta, naquele tempo era tão difícil assim encontrar um amor?

  2. Sempre que leio poetas portugueses, tenho a impressão de que a tristeza reinava, ou reina, naquelas terras.
    Felizmente nós, brasileiros, entre tantos “defeitos”, não herdamos a melancolia portuguesa.

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