Quando voltava da escola
Em casa sequer entrava
Debaixo da Castanhola
Todo dia eu me sentava.
Reunião de amigos
Naqueles dias antigos
Que a lembrança me traz…
Saudade, diga ao presente
Quando voltar novamente
Talvez não me encontre mais.
Uma roda de cadeiras
Formando lá na calçada,
Um reino de brincadeiras
Tudo virando piada.
De vez enquanto uma briga
Que não gerava intriga
Pois logo voltava a paz…
Saudade, diga ao presente
Quando voltar novamente
Talvez não me encontre mais.
Naquele reino de encantos
De carinhos, de afetos,
De zelos, cuidados tantos,
Entre vizinhos diletos,
Havia uma irmandade
Recheada de bondade
Que nem o tempo desfaz…
Saudade, diga ao presente
Quando voltar novamente
Talvez não me encontre mais.
A legítima rainha
Daquela sombra e reinado
Era Dona Raimundinha
Seu rei Aprígio ao lado.
O casal nos recebia
Sob a sombra e a magia
Daquele tempo fugaz…
Saudade, diga ao presente
Quando voltar novamente
Talvez não me encontre mais.
Hoje há só o vestígio
A lembrança me consola
De Raimundinha, de Aprígio
Da sombra da Castanhola.
Mas não ficou no passado
Meu olhar vê o reinado
Nas águas que o tempo traz…
Saudade, diga ao presente
Quando voltar novamente
Talvez não me encontre mais.
Jesus, nasci num povoado onde o falar corretamente não é levado a sério. Até parece que existe um linguajar próprio, implantado pelos índios paiacus. Ali, querosene virou gás, e faz muito tempo que valise é borná e tamanco é chamató.
E sabe qual é o nome dessa “castanhola”?
“Almenda”, que qualquer um entende como sendo “amêndoa”.
Também tive um pé de castanhola e uma roda de meninos debaixo dele. Não tive um Aprigio pra chamar de meu, mas tive a bodega de Ednaldo, a de seu Canuto, seu Louro das baganas, Sujismundo e Fedentina, um mercado na esquina, roupa em varal, quintal e brincadeiras na rua. Minha cidade hoje, não é como a sua. A minha foi invadida, tem comércio, escritórios, condomínios e shoppings. Minha calçada nem existe mais, imagine se haveria de ali estar ao menos o pé de castanhola.