A PALAVRA DO EDITOR

Morremos muitas vezes ao longo dos doze meses passados quando amigos se vão, diante dos punhais cravados pelos parentes aparentes, pelas animalidades praticadas pelos dirigentes de mentirinha, pelos preconceitos vários praticados, pelas merdalidades machistas presidenciais contra uma ex-presidenta, pelas arrogâncias dos cretinos que corroem um muito debilitado humanismo século XXI, quando dirigentes megalomaníacos se passam por salvadores do mundo ou quando sectários sem mínima cultura buscam jogar povos e nações uns contra os outros pela internet, depois apagando a brabeza todos cagados.

Ao longo das nossas vidas, diante da inexorabilidade da morte, tomamos quatro atitudes diferentes. Quando crianças, a morte nos é indiferente. Nutrimos por ela uma curiosidade idêntica às demais sentidas diante do imprevisto. Nenhum valor específico lhe atribuímos, posto que ela não provoca reação mais profunda. Um acidente da vida como outro qualquer. O escuro, quando se é criança, provoca muito mais medo que a própria morte. Para não falar das almas do outro mundo. Brinca-se até de morto como se brinca de bandido ou de mocinho. Ou de professor. Ou de dona de casa, as meninas-da-casa fazendo comidinha para as meninas-visitas, as mais sabidas.

Na adolescência, entretanto, principiamos a pensar na morte. Idealizamos a morte, mitificamos a morte. Começamos a pensar na própria morte. E principiamos a morrer, diante dos primeiros desmoronamentos provocados em nosso castelo-derredor. Mas ainda encaramos a morte como final de uma aventura, sem tropeços nem maldades, apenas coroamento, sem as pedras do caminho. Na juventude, a morte torna-se companheira quase brincante. Conceito romântico, substituindo a indiferença da primeira idade.

A inimizade se inicia na porteira da maturidade. A morte torna-se a maior inimiga, temida, mais analisada filosófica e religiosamente. A indagação de São Paulo inquieta: “Morte, onde está tua vitória?” A morte é término ou passagem? Túmulo ou túnel, como magistralmente um admirável pastor costumava dizer em suas pregações. Com crença ou sem ela, a agonia da morte se torna presente e o viver um contínuo e resoluto foco de resistência.

No último quadrante da vida, entretanto, “a mesa está posta e a cama feita”, como nos dizia o poeta Bandeira, que vivia aos trancos e barrancos com a Última Dama. Nessa fase, exige-se muita serenidade, capacidade de rever caminhadas menos felizes, emergindo a convicção de que bem outras seriam algumas das estratégias tomadas se os fatos fossem encarados com a mentalidade de agora.

Creio que a concepção da morte é determinada pela concepção que se faz da vida. Superar a morte, eis o desafio maior dos libertos dos encantamentos supérfluos, das prestimosidades dos lambetas, das “influenciadoras” sabichonas, dos burregos tecnocratas que desconhecem os valores de uma sociedade emergente e dos recalcados que se imaginam eternas vítimas, cordeirinhos imolados de um mundo que não os compreende.

Que 2021 nos proporcione, já bem vacinados, reflexões capazes de favorecer um caminhar dignamente resoluto, solidário, fraterno e bem mais humanístico na direção do ômega chardiniano. Sem medo de ser feliz, sob nenhuma hipótese. Sabendo dormir sem arma alguma e de mente pacificadora sem culpas nem complexos. Tampouco sem os machismos escrotos dos incultos e mentalmente ananicados. E com memoráveis encontros fubânicos, sempre sob as batutas do Luiz Berto e do Maurício Assuero, o primeiro idealizador e o segundo gerente geral da escrotaria.

3 pensou em “REFLEXÕES PARA UM 2021 CHEGADO

  1. A perda é sempre lamentável. O anjo libertador tem um papel ainda desconhecido. Quanto aos encontros fubânicos, vamos continuar. Na quinta teremos De Leon. E vemos trazer novidades. Prepare um tema pra entrar na fila. Seu pernambuquês fez um sucesso arretado

  2. Depois de lido e contemplado com bastante profundidade esse texto do bom colunista fubânico, Gonçalves, chegamos àquela simples frase manjada, mas conhecida por todos nós: queremos ir para o céu. Só que, ninguém quer morrer…

    P.S.: É a mais pura verdade quando se afirma que, os homens temem a morte como as crianças temem a escuridão.

  3. Altamir e Assuero: Obrigadíssimo pelos comentários. Sempre aprendo mais com comentários oportunos de fubânicos inteligentes, perdoando sempre os peidânicos que aparecem vez por outra.
    Vamos nos vacinar antes que a COVID-19 nos perturbe mais ainda.
    Que 2021 nos proporcione encontros memoráveis, as meninas surgindo com muitas luzes no pedaço.

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