Comentário sobre a postagem POLÍCIA DO PENSAMENTO
Pablo Lopes:
No início dos anos 1970 eu, então com 5 para 6 anos, comecei a ser alfabetizado por minhas irmãs mais velhas. O método utilizado por elas consistia em sentarmos em volta de folhas do jornal O Estado de São Paulo, que minha mãe comprava aos domingos, e aos poucos iam me ensinando a conhecer as letras, depois juntá-las formando palavras, frases, etc. Assim, lendo noticias de jornal, fui alfabetizado.
Dessa forma, minhas recordações de leitura mais antigas são noticias da época, as quais eu pouco entendia, vez que não fazia ideia do ambiente político da época. Entre essas lembranças está a leitura de um trecho de “Os Luziadas”, de Camões e uma receita de bacalhau ao forno (juro!).
Somente já adulto, com a redemocratização, fiquei sabendo que o jornal costumava colocar tais textos para preencher o espaço vazio deixado pelas matérias que haviam sido censuradas pela ditadura, que mantinha um censor na redação e outro na gráfica do jornal.
Trago estas recordações em razão da escalada autoritária que vemos avançar no TSE, STF e Congresso Nacional. Ao responsabilizar civil e criminalmente as plataformas digitais pelo conteúdo publicado pelos usuários, quando classificados por termos vagos como “discurso de ódio” ou “de cunho preconceituoso”, o que se quer, na verdade, é silenciar qualquer opinião crítica ao regime.
Estas medidas ditatoriais visam transferir para as plataformas digitais a execução do trabalho sujo de censura; o regime não quer sujar as mãos. Assim, voltamos ao início deste comentário, onde teremos censores atuando na redação das redes sociais disfarçados de algoritmos.
Resta apenas saber quais serão os poemas e receitas de bacalhau que irão ocupar o vazio deixado pelos censores do século XXI.
Caro Pablo, hoje a censura é muito pior que os anos 70 no regime Militar.
Naquela época havia um censor nas redações e quando não gostava de certas notícias, as retirava da edição que iria para prensa. O Jornal, para não deixar os espaços em branco, publicava poemas ou receitas.
E porque hoje é pior, há de me perguntar?
Hoje, segundo o que Musk denunciou, o Pretório Excelso vai até as plataformas digitais e manda tirar das redes ou tirar o alcance de políticos, jornalistas e blogueiros, calando suas vozes.
Não dizem qual foi o texto que causou a suspensão, o dia em que foi publicado, nem a razão para tal medida. Tudo é feito em sigilo, pois as plataformas foram orientadas a não dizer o motivo da punição, nem que foi o Judiciário o autor.
Isso é a censura, não do que foi escrito, como na época de 70 e sim do que poderia ser escrito e ainda não foi.
Censura prévia não ocorreu em 70, época em que havia uma guerra contra guerrilheiros terroristas que matavam em nome de uma causa, que era a implantação do comunismo.
Não dá para comparar uma coisa com outra.